
Mestre dos mind games. Não me lembro como ou quando nasceu a expressão, mas é sabido que é assim que olhamos para José Mourinho. Se calhar, foi o próprio que disse de si, o que também faria parte da sua mestria nesses jogos mentais… Seja como for, apreciamos como o melhor treinador português de sempre se move e escolhe tom e palavras, sobretudo em conferências de imprensa: o momento, por excelência, em que sabe que tem várias câmaras a focá-lo e muitos mais microfones a registar o que dirá. É nesse momento que Mourinho ironiza, ou sorri, ou faz cara de mau, ou faz-se ofendido, ou lança farpas ao árbitro, ou afirma que não fala da arbitragem, diz que tem jogadores acomodados, ou arca com todas as culpas e pede que deixem os jogadores em paz. Tudo sempre muito tacticamente escolhido, conforme o jogo que se segue. E a verdade é que este jogo é essencial para obter resultados… ou para os condicionar desde logo. Mas Mourinho não é o primeiro mestre. Volta e meia, regressa a conversa sobre o possível, hipotético e eventual “fim de ciclo” de Jorge Nuno Pinto da Costa. É conversa apaixonada, de extremos, entre os que já estão angustiados com essa possibilidade de ficarem órfãos de um comandante sem igual e os que já respiram de alívio. Haja o que houver, paixões e clubites à parte, Pinto da Costa já reservou um lugar na história do futebol nacional. E é de lamentar, seja qual for a circunstância, que a sua idade seja usada como arma rasteira de arremesso em discussões, quantas vezes com ironia e desrespeito. Mas como fazer mind games quando o que interessa, os resultados, não correm de feição? Simples: desvia-se a atenção para outro lado. Vejamos o caso Quaresma, que já faz correr tanta tinta. É daqueles em que é possível observar argumentos antagónicos, sem retirar total cabimento a cada um. Ou seja, se é verdade que será lamentável que Quaresma tenha sido alvo de injúrias racistas em campo, também é verdade que o jogador tem a obrigação, profissional e moral, de ter estofo para a situação. Sobretudo quando todos sabemos que é infelizmente usual nas grandes competições desportivas. Ainda assim, sendo “natural” que o jogador se sinta ofendido, também não é difícil concluir que grande parte da sua atitude e descontrolo se deve ao resultado que se verificava, naquele jogo em particular, e que no campeonato em geral significava, praticamente, o adeus do Porto ao título a que se habituou. Temos, pois, derrota e indisciplina grave. Impossível de combater? Talvez não… Pinto da Costa não demorou a transformar o “agressor” em vítima. Vítima, segundo o presidente do Porto, de uma injustiça “anunciada”, ao considerar já inadmissível que Paulo Bento não chame o jogador para o Mundial no Brasil. Repare-se: não há ainda convocatória, e até pode acontecer que Paulo Bento considere que o jogador não tem espaço nos eleitos, mas fica claro que o Porto mostrará indignação com as “razões”. Porque Pinto da Costa já anunciou que sabe perfeitamente que se tratará de um castigo por esta indisciplina. Mind games, mind games. Tirando a carga negativa emocional que estes jogos de palavras podem provocar, sobretudo entre adeptos, não deixa de ser interessante seguir estas novelas que alimentam jornais.