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Sei que corro o risco de lançar confusão, e espero conseguir explicar-me, mas o que me ocorre para começar é um pouco dizer uma coisa e logo o seu contrário. Aí vai: acho muito importante que se celebre o 25 de Abril, mas pergunto-me quantos anos vai durar a mesmíssima festa de sempre? Agora que estamos nos 40 anos, fiz o exercício de ir espreitar recortes e outras recordações dos 30, e até dos 20 anos. Diria que… é tudo igual. Tirando as diferentes conjunturas que o País atravessava em 94 ou 2004, e que servem necessariamente de fundo às “reflexões”, de resto temos as mesmas entrevistas às mesmas figuras, as mesmas evocações dos mesmos momentos, as mesmas listagens de músicas da época; toda uma romaria previsível. Digna, justa, mas uma repetição em ladainha. Começa a notar-se, a partir dos 20 anos da data, o exercício de “ensinar” a data aos mais novos, não faltando, aliás, as inúmeras entrevistas e fotos dos que nasceram em 74. Estes 40 anos poderão marcar o fim de um ciclo, já que a imperiosa lei da vida fará com que muitos dos protagonistas da data já cá não estejam quando for o cinquentenário, enquanto, por agora (felizmente) ainda estão. E parece-me ser esta, aliás, a razão principal para que a data continue a celebrar-se dentro de um clima sobretudo emocional. O recente e recorrente episódio dos militares de Abril indignados por não poderem discursar no Parlamento é apenas um dos muitos exemplos. É, aliás, um episódio que mostra no particular o que se passa no geral. Há um esmagador número de portugueses que sente a data muito fundo na alma, e que se irrita, enerva e indigna com quem não a sente assim, que serão sobretudo os mais novos. E se foi sendo “natural” há 20 ou 10 anos, quando passam quatro décadas, há que parar para reflectir um pouco. Vejamos: os meus filhos nasceram há 20 e poucos anos, e hoje têm, biologicamente, capacidade para gerarem os seus próprios filhos. O 25 de Abril, nesta crueza matemática, já terá sido há praticamente três gerações. E, no entanto, grande parte dos portugueses exige (sim, é a palavra) que os mais novos respeitem a data com a mesma devoção. A SIC exibiu o curioso resultado de um inquérito de opinião, que mostrava que há hoje um significativo desconhecimento sobre os nomes que mais estiveram ligados ao 25 de Abril. Por exemplo, muito poucos sabem quem foi Melo Antunes ou Vasco Gonçalves. Alguns colegas jornalistas, alguns comentadores, alguns entusiastas das redes sociais não tardaram a mostrar a sua indignação: Como é possível? Que juventude é esta? Estamos perdidos!  Quando a resposta simples, parece-me, será: é a vida. A vida de sempre, desde o início do mundo. Ouvi até comentários que diziam que os jovens têm “a obrigação” de saber na ponta da língua os nomes de quem lutou para que pudessem hoje gozar a liberdade numa sociedade moderna. Entre nós, mais jovens ou mais velhos, haverá sempre quem se interessa pelo passado, mais remoto ou recente, e os que pura e simplesmente não querem saber. Saberão todos os portugueses mais idosos todos os nomes dos que instauraram a República? Celebremos a data, que bem merece. Mas sem essa pressão injusta sobre todos os que só conheceram um país livre. Como qualquer pai que comete o erro de pressionar muito um filho sobre uma matéria, ainda pomos os jovens a desprezar, fartos, uma data realmente histórica.

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