
É de mim, ou há pouco (muito pouco) entusiasmo em redor da Selecção que abalou para o Brasil? Do que me lembro de 2010, 2006, e especialmente 2004, não vejo energia ou suspense no ar. Um certo e notório distanciamento. Aposto que muito terá a ver com a grande dúvida sobre o que conseguirá Cristiano Ronaldo fazer. Com todo o respeito pelos outros 22 guerreiros, Ronaldo transformou-se, para o bem e para o mal, no coração, pulmão e espinha dorsal da Selecção. Pelo que joga e pelo que inspira. Pelo que significa. Seja como for, como somos um povo bipolar, bastará que a Selecção se agigante e vença a Alemanha para o País se incendiar de súbito entusiasmo, talvez, quem sabe, com as bandeiras a voltarem às janelas. É neste quadro de dúvida sobre o que poderemos fazer, o que valemos hoje, que a Federação nos revela a nova mascote e um novo hino da Selecção. Eu disse mascote? Queria dizer mascotes, plural, mas já lá regresso. Primeiro o hino: “Portugal, Portugal, de mãos dadas pela Selecção, todos juntos com a mesma paixão, que alegria, mostra em campo a tua magia”, etc… Está lá a pobreza habitual da rima esperada, Selecção rima com paixão, alegria com magia, e não deverá faltar vencer com crescer, e outras pérolas nunca antes ouvidas. A música? Daquelas que se esquecem 10 minutos depois. Cantada por uma miúda fresca, que me dizem ter uma voz que está na moda: a Kika canta, naturalmente, no centro de um relvado, filmada por uma câmara moderna a andar à roda dela. E é por aqui que a Federação pensa arrebitar–nos o espírito. Mas pronto, a musiquinha é daquelas que não fazem mal a ninguém. Depois, como é da praxe, uma iniciativa tradicional que nunca percebi, mas que, há que dizê-lo, não é exclusivo lusitano: a mascote. E eis que nos aparecem dois bonecos, sim, dois. São o que infelizmente se esperava: nem bonitos, nem inspiradores, nem engraçados, nem desconcertantes. Dois gigantones de olhos redondos e parados. Um verde, outro vermelho. Têm nomes, as criaturas. É o João do Mar e a Beatriz do Castelo. Socorro-me agora da argumentação oficial para o que significam: com fatos de super-heróis, pretendem “promover o espírito do futebol, o espírito de conquista e de fair-play, e ainda da igualdade de género”. O João é do mar porque claro que o mar é português, e a Beatriz é dos castelos porque alguém achou que os castelos também nos identificam. Bom, o fair-play e a conquista? Já se esperava o vazio de expressões eloquentes cheias de nada. Agora a igualdade de género é a grande cartada. Permitam que pergunte a que propósito é escolhido o campo do futebol em geral ou da Selecção em particular para empreender esta “luta”? Assim sendo, porque não ser verdadeiramente original, moderno, cosmopolita, e apresentar o João do Mar e o Toni do Rio? Sim, aproveitava-se e incluía-se mais uma demanda politicamente correcta a reboque da Selecção, lutando pelo casamento homossexual. E enfim, é com isto que se gasta dinheiro. Quanto ao génio que inventou o casalinho, talvez devesse ter duas ou três noções básicas sobre o que inspira confiança numa liderança: o líder é um. Tudo o que venha a mais, confunde e não resulta. O Bloco de Esquerda pode explicar.