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Por razões de prazos a cumprir, tenho de enviar esta crónica para a revista antes de um grande acontecimento: quando esta revista chegar às bancas, Portugal já se terá estreado no Mundial, mas tive de escrever antes de saber o que se passou. Não faz mal. É uma questão de fazer das fraquezas forças. E virar o discurso para uma temática mais geral, a que realmente me interessa hoje, do que para pormenores de um só jogo em particular. Antes de mais, não será difícil de calcular o que se terá passado. Se perdemos, andamos todos de cabeça baixa, comentamos todos que já sabíamos que isto este ano ia ser uma desgraça, que vamos levar também uma coça do Gana e dos Estados Unidos. Se vencemos, anda tudo feliz, este ano é que é, venham de lá os americanos que vão ver o que é bom. Há ainda as meias-tintas, que tanto nos angustiam. Empatámos, e não sabemos bem o que pensar, isto pode cair para qualquer lado, fico triste ou contente? Somos assim, excessivos e bipolares. Se me permitem, não teríamos graça de outra maneira. Escrevo na véspera de Santo António, está um calor de brasa, e por todo o lado se vê gente atarefada… com o lazer. A comprar cerveja de chinelo no pé, a vir da praia com um sorriso, a beberricar vinho fresco na esplanada, enquanto se discute quem o Paulo Bento devia pôr a jogar de início. É um tempo feliz, aparentemente feliz, e bem o merecemos depois de um ano terrível, ou melhor, dois ou três ou quatro. Nestas ocasiões, cada vez mais raras, continuam a ouvir-se os que preferiam que nos arrastássemos na tristeza. O argumento é lógico, e nem merece discussão: o futebol, e o calor, e os Santos Populares, nada disto consegue afastar a dimensão angustiante da nossa condição económica, ou as interrogações que se mantêm, e perpetuam, apesar de nos acenarem com uma ténue luz ao fundo do túnel. É verdade. Mas este pode ser daqueles momentos em que nos agarramos às pequenas e fugidias felicidades. Que sabem tão bem. Alguém disse um dia que a arte, toda a forma de arte, na realidade não serve para nada. E, no entanto, é o que nos impede de enlouquecermos. Também isto, caramba, é tão verdade. Quantos de nós não foram já “salvos”, num dia mau, por uma música que voltamos a ouvir para arranjar forças, um filme que nos ensinou tanta coisa, um livro ou um espetáculo que nos fazem pensar fora do quotidiano, nos fazem voar para outro sítio? Quem diz a arte, diz nesta altura a bola, ou o regresso do sol, ou a folia infantil dos Santos Populares. Sim, não consertam nada de estrutural ou vital na nossa vida. Até poderão ser, como dizem os políticos mais sisudos, um mero ópio do povo. Mas é de momentos destes que nos recordaremos um dia. É a momentos destes que nos agarraremos para atenuar todo o sofrimento e angústia por que tantos passam. Não vem daqui benefício para o mundo, é certo. Mas mal também não vem. E, repito, sabe tão bem. (Ai, só espero que Portugal tenha vencido a Alemanha… Mas se não venceu, venha de lá o próximo jogo… e a próxima festa.)

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