
E pronto, acabou-se. E acabou como era de prever, com tudo a que um português tem direito. Porque não fomos eliminados sem espinhas, daquelas que doem na altura mas nos acabam logo com o sofrimento. Não. Teve de ser à portuguesa, devagarinho, devagarinho a escorregar, mas sempre a dizer que há uma luzinha ao fundo do túnel. Até à última, de calculadora na mão e a rezar por resultados alheios. E para o sofrimento ser épico, nem nos podemos queixar dos arranjinhos que temíamos entre os malvados dos alemães e norte-americanos. Até os alemães fizeram a sua parte, a que melhor nos servia, deixando-nos a sós com a nossa missão, que já voltava a depender só de nós. E o milagre tornava-se possível. Sim, porque já se viram coisas mais estranhas do que marcar cinco golos num jogo. E eles bem podiam ter aparecido. Mas foi aí, ao espelho da nossa incapacidade, sem nos podermos queixar dos outros ou do árbitro, que acabámos por cair, como era previsível. O que realmente se passou nas cabeças dos jogadores nesta breve passagem pelo Brasil só eles saberão, se é que mesmo eles conseguem entender… Agora vem aí, como diz o seleccionador, outra ocupação muito portuguesa; as incontáveis reuniões, conversas, análises, talvez relatórios, para averiguar o que “correu mal”. Até aqui, nesta forma de encolher os ombros parecendo que se está a estudar, a Selecção foi a imagem dos portugueses. Somos adoráveis, é certo, e gostamos de rir dos nossos dislates, dizendo que é preferível ser assim do que frio e mecânico como os outros, mas há alturas em que já chegava de ser castiço. Para já não falar das penosas exibições em campo, o carrossel de emoções mal contidas e declarações mal pesadas e pensadas demonstrou a nossa tradicional esquizofrenia. Há muitos exemplos, mas fico-me por poucos mas bons: pouco antes da estreia com a Alemanha, Cristiano Ronaldo atira uma frase para o céu a plenos pulmões. Este vai ser o ano da Selecção. Os jornalistas fizeram o que lhes compete e Ronaldo queria. Apanharam a frase, e embrulharam-na como apetitosa manchete. Pois assim que a coisa deu para o torto e já se via o que se veio a ver, o mesmíssimo Ronaldo diz que não poderíamos nunca sonhar ir longe com a Selecção que temos. Pois. Há, depois, a vertigem jornalística, a febre de arranjar polémica, construir caso onde haja um mínimo de faísca. E assim surgiu o vento que já punha Paulo Bento fora do banco. Demite-se? Será demitido? Diz que sim, diz que talvez. Se ele não nega, há que martelar na tecla. Até que a Federação primeiro, e o próprio Bento depois, dizem que não, não haverá demissão ou demitido, haja o que houver. Aturdidos com o fim rápido da interrogação com que queriam alimentar dias e dias, ainda houve jornalistas a perguntar pela coisa, já depois de Bento o ter dito, e repetido, e reafirmado outra vez. E pronto. Agora que os jornalistas percebem que vão continuar a conviver com ele mais dois anos, o tom já é o contrário. Paulo Bento demitido?! Isso seria uma estupidez que não resolve nada. E é isto. Somos assim.