
E pronto, estou a chegar ao fim das férias. Do período maior, pelo menos, que gozo sempre antes de Agosto, altura em que gosto de trabalhar e de desfrutar de uma Lisboa menos concorrida. É nestas férias que ponho a leitura em dia. Dois ou três livros que tenho ainda inacabados. Mas, como já o confessei inúmeras vezes aqui, é também o período em que, volta e meia, quando vou comprar cigarrilhas e entregar o Euromilhões, compro duas ou três revistas de “actualidades”, ou cor-de-rosa, se quiserem, ou de televisão, ou de “celebridades”, ou como lhes queiram chamar. É aí que de ano para ano me deparo com as novidades que me escapam no dia-a-dia. Ou melhor, e isso é que é fantástico, com a total falta de novidades. Tirando a chegada fugaz de uma ou outra personagem, parece-me estar sempre a ver os mesmos rostos. E praticamente as mesmas histórias. Vão mudando, aqui e ali, quem se separou de quem, quem foi visto com quem, ou onde, mas nunca há que enganar: há sempre meninas e meninos que exibem “uma invejável forma física”. Antes de mais, dizer que não vem daqui mal ao mundo. As coisas são o que são, compra e consome quem quer, e não faria grande sentido (e não seria coisa que me apeteceria folhear na praia) que estas revistas desatassem a entrevistar cientistas ou a explicarem física atómica. Acrescento ainda que se estas revistas parecem trazer sempre a mesma coisa, a mesma percepção ou leitura se pode retirar dos noticiários ditos sérios, na televisão ou rádio, onde regra geral também nos debruçamos sobre meia dúzia de temas. Acontece que há uma pequena grande diferença: muitos (não todos, de facto) dos temas que abordamos na informação têm impacto muitas vezes directo na vida de todos nós. Ainda assim, longe de mim olhar de cima para baixo para estas publicações. Cada um no seu negócio, como costuma dizer-se. O que me intriga verdadeiramente são as personagens que só é possível encontrar por aqui. O que pensam, o que dizem, por quem se tomam. As revistas fazem o seu trabalho. Têm o seu público-alvo, que se entusiasma em saber o que disse Rita Pereira no seu Facebook, ou se Isabel Figueira está com o actual ou foi vista com o “ex”, “em clima de grande cumplicidade”. As revistas, repito, cumprem a sua função num mundo de oferta e procura. E não têm culpa de certas respostas, afirmações ou poses. Mas também repito que a cada ano me deslumbro com a capacidade de tanta gente se julgar alguém por tão pouco. Muitas vezes o pouco é simplesmente existir ou aparecer, sem uma única acção, gesto ou contributo que transforme a vida dos demais. Entre mil e um depoimentos “memoráveis”, ou vazia vaidade, mal disfarçada e injustificada, gostei particularmente de um qualquer casal, que pelos vistos entrou num qualquer reality show. Dizia ele (o rapagão) que sonha com o dia em possam passar despercebidos (depreendo que não serem incomodados por legiões de fãs). Algo me diz que esse dia tão desejado ou já chegou ou não tarda a chegar… Mas não há nada a fazer. Poucos aprendem com os sucessivos exemplos de tantos outros reality shows, ou até exigentes concursos de talento vocal. Aproveita hoje, que amanhã já ninguém sabe quem és. Seria bom que quem passa por isso reflectisse um pouco para tentar perceber porque foi assim. Mas duvido que o façam. Quais 15 minutos de fama, qual quê, hoje a malta contenta-se com 2 minutos.