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Rui Veloso deu uma entrevista. E o título, e apenas o título, alimentou alguns dias de interrogações e discussões. Lida a entrevista sem olhar ao título, lá vem a ideia, pacífica: o músico precisa de uma pausa. Descansar, refrescar a cabeça, como nos acontece a todos. Mas o título praticamente enterrava-lhe a carreira. Dizia-nos que Veloso vai parar. O músico sentiu a necessidade de explicar-se uns dias depois. Calma, não vou parar, um músico só pára quando morre. Vai de férias, digamos assim, depois de anos e anos na estrada. Depois, lá pelo meio, em jeito de alguma justificação para o cansaço, lamentou algumas coisas, do estado do País à confusão que hoje se vive na música. Deu o exemplo dos concursos televisivos. Interessa pouco, para o caso, que tenha havido depois debate sobre o caso Veloso em particular. Recebeu muitas mensagens de incentivo, mas também algumas menos agradáveis. Isso interessa pouco para o que me apetece lamentar. Não tenho nada contra os concursos, e prefiro até escutar jovens a tentar revelar talento para a música do que ver barbaridades acéfalas de reality shows. Mas já aqui o disse, a propósito de dois recentes vencedores de concursos: ter voz razoável é muito diferente de ter alguma coisa a dar à música. Até pode haver por ali quem faz ou fará carreira, quem vai compor e trazer coisas novas, mas a verdade é que estes concursos estão transformados em meros karaokes transmitidos em directo. Veja-se, aliás, que um dos vencedores acaba de editar um “disco” com… as suas interpretações no concurso. E aqui chegamos a uma das lições de vida que tive de aprender recentemente. Habituei-me a dizer, entre amigos, que não acredito que alguém pague para ver e ouvir tipos que se limitam a tocar coisas de outros. Agora… acho que tenho de repensar a minha certeza. Os imitadores estão a ser aplaudidos, e muitos a lucrar com isso. Não são só os aspirantes a “talento”. Não sei se já reparou na inacreditável quantidade de bandas-tributo que por aí andam. Multiplicam-se a cada ano. Bandas que se formam para dar espectáculos em que se limitam a tocar o que criaram e tocaram bandas famosas. Há de tudo: tipos que ganham a vida a imitar os Beatles, os Queen, os Pink Floyd e muitos outros. E já me falaram de tributos de bandas nacionais. É um fenómeno que me escapa, mas que terá público, e crescente, a julgar pelo que vejo. Mas há ainda um outro fenómeno, que me parece até mais incompreensível, mas que é o retrato acabado da tristeza a que a música pode chegar. Agora, nos “festivais de música”, as grandes estrelas, já cabeças-de-cartaz, são os disc jockeys. Inacreditável. Os disc jockeys, que misturam criações de outros num tchibum-tchibum. Fenómeno curioso, mas exemplar do tempo que vivemos, tempo de preguiça mental e alienação pelo menor esforço. Eles não têm verdadeiramente culpa. Aliás, um deles dizia que, aqui há uns anos, fazia uma actuações em palcos laterais, e que agora ele mesmo fica um pouco surpreendido (agradavelmente) de ser chamado para o palco principal das multidões. Porquê? Segundo um promotor de um festival, “porque lá fora é isto que agora está a dar”. E o “isto” já tem pouco a ver com música. As pessoas que vejo ali querem concentrar-se, estar umas com as outras, embebedar-se e um pouco mais: a “música” é um ruído de fundo que embala a energia. Já ninguém vai ver se fulanos ou sicranos vão tocar ao vivo boas variações da música de estúdio. Já ninguém vai ver artistas. A malta quer é máquinas de sons programados. É triste. Gostava que fosse moda passageira, mas já não tenho muita esperança.

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