
1 Não vou entrar do número do foi este ou foi aquele. Não me interessa quem foi, ou a mando de quem. Interessa é que não é a primeira vez que estas coisas acontecem, basta aliás ver a cara de “espanto” de alguns políticos por andarmos a fazer notícia dos estranhos e bizarros acontecimentos em torno das quotas de militantes do PS. E é realmente espantoso que, às interrogações dos comuns cidadãos com este espectáculo (chamemos-lhe alhos) os dirigentes respondem com bugalhos. A questão, para quem assiste da bancada e nada tem a ver com as organizações partidárias, é essencialmente ética. Como é admissível que as quotas de pessoas que sabem que não pagaram apareçam pagas, ou como é simplesmente possível que também apareçam pagas quotas de militantes emigrados ou… já falecidos? A tudo isto, respondem-nos os dirigentes que é prática comum. E puxam logo de uns quantos regulamentos, estatutos, alíneas e artigos. Ouvi mesmo alguém justificar, quando outros argumentos falhavam, que o pagamento de quotas alheias acaba por ser uma “homenagem ao militante”. Tudo isto é absolutamente espantoso, e ainda mais espantoso que ninguém, dentro dos partidos, entenda que são precisamente estes jogos de secretaria que descredibilizam a classe política. Que depois acha injusto ser vista como organizações de interesses, arranjos e benefícios, que já nada têm a ver com ideologias ou sentido de bem comum. Também significativo é perceber que, no limite das explicações, os do PS apressam-se a esclarecer-nos que isso também se passa no PSD. Faz lembrar as crianças apanhadas a fazer asneiras, que apontam logo para o colega do lado, a comprometê-lo também.
2 Eu não queria voltar a falar de Miley Cyrus, até para não receber mails de adolescentes que ficam danados comigo e me acusam de ser muito injusto, e de não a “compreender”. Mas acontece que não, não a compreendo, sobretudo não entendo como pode atingir novos e vergonhosos patamares de manipulação. Ofendam-se mais um pouco: aquela cena muito querida e muito humana de levar um sem-abrigo aos prémios da MTV é das maiores falsidades que já tive o nojo de ver. Farta de saber que o “mundo” se interrogava sobre o que iria Miley fazer desta vez, decide dar uma de corte radical com as “maluqueiras” recentes, e tentar impressionar-nos com uma noção pateta, egoísta e manipuladora de grande humanitária. Sim, não sou apenas uma cantora pop, reflicto muito e tenho uma visão da Humanidade e dos seus problemas e estou aqui para “denunciá-los”. Para isso, levou um sem-abrigo. Curiosamente, e totalmente ao calhas, Miley levou o mais giro da rua, nada de velhos desdentados ou negras com peso a mais. Depois, diz que não gostou nada que estivessem a filmá–la no momento em que o giraço, atrapalhado, falava. Sendo que Miley se levantou do lugar, avançou para uma beirinha do palco, mesmo em frente a uma das inúmeras câmaras, para que víssemos com todo o pormenor a sua “dificuldade em conter as lágrimas”. Tadinha, mas ela não queria que a tivessem filmado, porque o momento era do miúdo. O êxito que as Mileys conseguem hoje é triste. Diz muito de quem não consegue perceber que sempre foi muito fácil apanhar as mosquinhas inocentes com mel. Ou a vender cada vez mais discos fingindo qualquer papel.