
1 É conhecido, nesta altura, o meu interesse, o meu empenho na causa da defesa dos direitos dos animais. É das poucas grandes convicções que verdadeiramente me agitam, uma das muitas atrocidades que me incomodam ao vómito. Não consigo sequer ouvir falar de mais uma barbaridade. Comovo-me por tudo e por nada no que respeita ao assunto. Apesar de as incentivar, como método de alerta e sensibilização, não consigo sequer ver uma reportagem sobre canis a abarrotar. A causa é, e será sempre, uma das matérias a que reajo totalmente com o coração e a pele, e não consigo sequer alimentar uma discussão com aqueles que, com ar displicente, acham que “exagero”. Já tantas vezes falei disto, que a minha posição se tornou conhecida. Por isso, creio, recebo muitas vezes contactos das mais variadas pessoas, muitas delas organizadas em associações, que me pedem intervenção. Seja para estar presente numa manifestação, ou para integrar um grupo que pretende visibilidade quando vai entregar uma qualquer petição indignada numa qualquer autarquia. Tudo no meu lado emotivo me faria aceitar sem hesitar. Mas não, não posso fazê-lo. Escolhi ser jornalista, e tenho de viver sob as suas regras. Já me dou por muito contente ter alcançado um estatuto, pela idade e percurso, que me permitem, nesta página ou outras, tomar francamente um “partido”. Por uma causa que me parece eticamente pacífica, uma vez que se trata da mais básica noção e convicção de humanidade. Ou seja, não se trata de apoiar abertamente um partido político, ou empunhar a bandeira de um clube. Mas, ainda assim, considero que a minha franqueza e exposição não podem ou devem ir muito além disto. Cá estarei, por aqui, sempre, a expressar o nojo que me dão as bestas que são capazes de maltratar um animal indefeso. Vou sentindo pequenas alegrias, como as de sensibilizar colegas e amigos que não davam muita importância ao assunto, e, sobretudo, de ter conseguido criar dois filhos que, desde muito pequenos, compreenderam a dimensão de horror que carrega qualquer chacina de inocentes. Qualquer agressão, qualquer abandono, qualquer negligência.
2 Passou aí pelas notícias, mas relativamente despercebida (ou subvalorizada) a questão da exposição pública das “bases de dados” de pedófilos condenados. É, obviamente, matéria sensível. É matéria que merece discussão. Mas faz-me muita confusão tanta convicção teimosa de ideólogo que ouvi para aí, muito preocupado com os direitos destes condenados. Que não pode ser, coitados, porque há o risco de serem apontados a dedo pelos vizinhos, ou até agredidos por milícias populares. Ai, Jesus, mais os direitos fundamentais da democracia e mais não sei quê. Tenho pena, muita pena mesmo, que raramente veja tanta convicção na condenação veemente do nojo que é o abuso sexual de uma criança. Que haja gente que parece conseguir equiparar este crime a alguns roubos ou patifarias. Que haja ainda tanta gente que só acorda para a vida, e para o nojo e horror, quando a pedofilia lhes bate à porta da família.