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E eis senão quando, ao folhear os jornais, leio que determinado programa originou grande sururu nas redes sociais. Antes de mais, nunca é demais referir o crescente enervamento, que me começa a fazer séria comichão, esta autêntica paranóia com o que dizem ou deixam de dizer as redes sociais… Mas já lá irei. Primeiro, há que dizer que não fazia ideia de que estava para estrear “Barca do Inferno”, na RTP Informação. Depois do jantar, fazia o meu habitual zapping, quando me aparece uma acesa discussão à frente. Condição humana: torna-se irresistível ficar por ali um pouco, a ver e ouvir. É quando percebo que quatro comentadoras debatem a actualidade, com Nilton à cabeceira, na posição de apresentador-moderador-distribuidor de temas. Chamou-me a atenção, confesso, porque apanhei a coisa num momento particularmente agitado, com vozes a sobreporem-se, na linha do que costumamos chamar algaraviada. Um espectador mais desatento poderia achar que estamos perante um momento mais complicado, inesperado, desconfortável. Mas torna-se óbvio que o programa nasceu para estes momentos. Não é o único, e dificilmente será o último, mas é tão óbvio que Nilton esqueceu-se de esconder o sorriso, de quem está contente porque a coisa está a caminhar como ele e os responsáveis do canal queriam: confusão, alguns gritos, faces iradas, controvérsia. O pote de ouro dos últimos anos de televisão. Não é o único, repito. Não faltam, na nossa e noutras televisões, programas ou simplesmente momentos de frente a frente, que mais não são do que uma tentativa de ver aquilo pegar fogo. Repare-se, aliás, que muitos apresentadores só ficam calados e quietos quando os intervenientes se atiram uns aos outros: um ar indisfarçável de “missão cumprida”. Há, depois, a questão relevante do painel de comentadores. Ou de comentadoras, o que faz toda a diferença. Não pelas pessoas em si, das quais só conheço bem Manuela Moura Guedes, mas precisamente porque me parece que o programa quer apresentar-se “diferente” porque é constituído exclusivamente por mulheres. É aqui que me continua a fazer confusão o presente envenenado que constituem as coisas “para mulheres”, ou só com mulheres. E simplesmente porque ninguém se lembraria de usar como chamariz: “Ei, malta, venham ver o nosso programa, onde temos quatro homens a debater”. Há, ainda e sempre, uma nuvenzinha de machismo paternalista quando se anuncia um programa só com mulheres. É só isto que acho que não deveria continuar, em qualquer canal, e deviam ser sobretudo as mulheres a rejeitarem esse argumento de “venda”. Quanto ao essencial que me traz hoje aqui, acho que o apresentador e o painel fazem bem em marimbar-se para as redes sociais. Há uma ditadura no ar, alimentada e aumentada pela comunicação social, que elegeu as redes sociais como verdadeiros, legítimos e últimos juízes de qualquer coisa que se faça, em televisão, rádio, cinema, música. Chega da lengalenga de “ai, as redes sociais dizem que isto, ou dizem que aquilo”. Ainda somos muitos os que vivem fora dessa realidade, e recusam reger-se por ela. Não é por nos quererem vender uma ideia muitas vezes que ela se torna verdade.