Confesso que nunca simpatizei com Bill Cosby. Para quem não conhece, é um actor-comediante afro–americano (o termo politicamente correcto…). Tem nesta altura mais de 75 anos, e prepara um regresso, com vários projectos, depois de décadas de sucessos na televisão. Quase sempre no papel de pai de família. E eis que aparece primeiro uma, depois duas, três, e parece que vêm aí mais, mulheres a garantirem que foram violadas por Cosby, ou que sofreram, pelo menos, um qualquer tipo de humilhação e abuso sexual. Voltemos, por momentos, à minha impressão sobre o senhor. Como é de esperar, não o conheço. O que tenho dele é, precisamente, uma impressão, o que temos, aliás, todos, das chamadas figuras públicas. Construímos uma imagem, tantas vezes injusta, a partir das suas actuações, de eventuais entrevistas. De Bill Cosby guardei sempre uma má impressão. O que é curioso é que não é o único humorista que me provoca um certo desconforto, ao vê-lo e ouvi-lo num registo de entrevista, momento em que supostamente ficamos a conhecer mais o lado pessoal que vai para além das personagens que encarnam. E Bill Cosby sempre me pareceu azedo, ríspido, e longe de ser uma inteligência. Quando vemos um humorista, estamos predispostos a simpatizar. Mas sou daqueles a quem os palhaços faziam medo na infância. Como se atrás da pintura houvesse, afinal, uns olhos frios. Não quero com isto generalizar: podia dar inúmeros exemplos de humoristas de quem tenho uma fantástica ideia. Mas é de Cosby que falo. E nunca gostei dele, ponto. E é por isso que, lamento, estou muito inclinado a acreditar nestas mulheres. Sim, obviamente que só será culpado quando (e se) se provar que cometeu as atrocidades de que se fala, sim, bem sei que tem mandado dizer que é completamente inocente e que elas são todas malucas. Mas quantos casos do género vimos já assim? A ser verdade, será obviamente mais um monstro que se aproveita do dinheiro, do relevo social, da fama, para “conseguir” o que, provavelmente, nunca obteria se dependesse apenas do seu “charme pessoal”. As histórias têm ainda contornos mais escuros, porque em alguns casos as mulheres terão sido drogadas, para que evidentemente estivessem mais dóceis quando o predador avançasse. Enfim, o caso seguirá com investigação e tribunais, julgo eu, e logo se vê o que sai dali. Mas acreditemos, infelizmente, numa praga universal, e crescente, de abusos de homens sobre as mulheres. Nem de propósito, acabo de ler mais uma conclusão de mais um estudo da Organização Mundial de Saúde, que nos garante que são já um terço das mulheres a sofrer, de uma ou outra forma, mais ou menos grave, agressões dos maridos ou “companheiros” (?). Ora, um terço significa uma em cada três mulheres. Repito: uma em cada três mulheres é agredida, ou maltratada, ou violentada, ou vive no medo. Temos de começar, urgentemente, a reflectir para tentar perceber o que se passa na nossa dita civilização. E lutar para parar com isto.
Já chega, ok?
De Bill Cosby sempre guardei uma má impressão. Sempre me pareceu azedo, ríspido, e longe de ser uma inteligência