
Já escrevi sobre isto, mas permitam-me voltar ao assunto: não entendo, não percebo, não me entram os calores que por aí andam, tantas vezes nas mais insuspeitas personagens, por causa da ansiada, aguardada, suspirada estreia cinematográfica dessas rocambolescas “As Cinquenta Sombras de Grey”. Já ouvi dizer (sujeito a confirmação) que haveria salas esgotadas assim que se soube da data de estreia.
Deixe-me voltar um pouco atrás. Bastante, aliás, ali aos meus anos de adolescente. Como qualquer adolescente (quem negar, mente descaradamente) passei por uma fase de crescimento em que as hormonas começam a chocar umas com as outras, e damos por nós numa trepidação curiosa por tudo o que tenha a ver com sexo. Chama-se a isto ser humano. Na minha adolescência, o sexo não era propriamente proibido, mas era fruto raro. Numa lógica simples de procura e oferta, nós procurávamos, mas havia pouco que o mercado pudesse oferecer. Na televisão? Esqueçam. Internet não havia. Restavam, aos mais afoitos, tentativas de mentir sobre a idade para espreitar nem que fosse uma sessão de iniciação nos poucos cinemas “especializados”, ou as poucas revistas, que não tínhamos dinheiro ou lata para comprar. Havia sempre, ainda assim, um irmão ou primo mais velho que escondia revistas debaixo da cama. Assim de repente, lembro-me da famosa “Playboy”, a erótica-chique “Oui” ou a mais ousada “Penthouse”. E ainda assim, senhoras e senhores, qual sexo qual quê, apenas raparigas voluptuosas sem roupa. Em pose convidativa, sim, com sorriso maroto que sugere um suspiro, sim, mas sem sombra de rapagão ali perto, que de repente pudesse começar a coisa que tínhamos curiosidade de saber como se fazia.
Dito de outra forma, estivéssemos presos ainda nesse tempo, e a estreia próxima de umas “Sombras de Grey”, ou equiparada, também a mim me encheria de ansiedade, quero crer. Mas hoje, damas e cavalheiros? Hoje, em pleno 2015? Hoje, quando qualquer caixa de televisão por cabo tem centenas e mais centenas de filmes ao alcance de um clique de aluguer? Hoje, quando a dificuldade, ao navegar na internet, é ter cautela com as palavras que se colocam no motor de busca, porque se corre o risco de nos saltar à cara um dos milhões de sites porno, eróticos, simplesmente atrevidos, mais ou menos explícitos? Pelo amor de Deus, mas que vida sexual tem toda esta gente que se excita com o “mundo obscuro e secreto das fantasias” das “Sombras de Grey”? Mas que espantosa novidade vem por lá que a malta ainda desconheça? Não me digam (para não me desatar a rir) que são as vendas nos olhos, as algemas, os dildos, o jogo do senhor e da submissa, a menina certinha que guardava dentro de si uma malícia até então desconhecida, envergonhada e excitada ao mesmo tempo, que dá por si a fazer coisas que antigamente só a faziam corar? Perdoem-me o constante espanto, mas não consigo entender.
Mas a novidade desta suburbana excitação já me tinha passado no tempo das divertidas pornochanchadas italianas, quando o João Broncas mandava o lápis para o chão para a professora de Matemática se debruçar a apanhar. A professora, para quem não saiba, usava sempre minissaia. E cabelo apanhado. E óculos. E havia sempre uma cena em que soltava o cabelo e tirava os óculos. Mas para que perco tempo a explicar isto?