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Vivo um dilema. Não tenho fórmula mágica, não sei realmente o que fazer, ou o que se possa fazer, mas não consigo assistir ao massacre de braços cruzados. Ao massacre, sim, não há outro nome para o que vemos, lemos, ouvimos, sobretudo no último ano, sobre os casos da chamada violência doméstica. Repare: todos nos indignamos e chocamos (e naturalmente) se eu lhe disser, no “Jornal da Noite”, que lá na Síria ou no Iraque, foram colocados em fila dezenas de inocentes, ajoelhados, que depois foram abatidos a sangue-frio. Essa absurda, terrível e violenta imagem, é muito difícil de apagar da memória. Dezenas e dezenas de seres humanos que respiram e no segundo seguinte tombam para uma vala comum. Arrepiamo-nos, em parte porque os vemos todos juntos. Mas agora pense no número de mulheres que foram assassinadas em Portugal por maridos ou ex-companheiros. Bem sei que elas têm chegado às notícias a conta-gotas, uma hoje, outra daqui a uns dias, outra passada uma semana. Então experimente colocá-las todas juntas. Veja-as todas juntas, porque foram todas abatidas pela mesma “razão” (fica tão mal aqui, esta expressão…). A imagem, penso que concorda, é sensivelmente a mesma. O horror incómodo, o mesmo. É absolutamente inacreditável. E porque é devastador, pode atirar-nos ao chão, apenas a lamentar, sem solução. Recuso isso. E ainda que repita que não, não tenho solução, tenho a urgência de achar que temos a responsabilidade nacional de pensarmos, em conjunto, numa possível solução. Pelo menos, debruçarmo-nos a fundo sobre o problema, tentar perceber onde nasce, como se desenvolve, para que se possa travar futuras barbáries. A minha pergunta é, pois, se há alguém a pensar no assunto, ou vamos continuar a baixar a cabeça a cada notícia de mais um homicídio, a baixar os braços, encolher os ombros, e mostrar a cada potencial nova vítima que sentimos pena mas pouco mais? E não falo só das que foram já assassinadas, e que são vítimas que arrastam muitas outras vítimas: os filhos que cá ficam, a família e os amigos órfãos, traumatizados para todo o sempre. Há, ainda, o impressionante pelotão das vítimas potenciais. Todas aquelas que vivem, neste preciso momento, sob uma ameaça constante. Não, não sei o que faça, mas do pouco que posso fazer, permitam-me que aproveite estas frágeis linhas da crónica para convocar, para pedir à polícia que se interrogue:  está a fazer tudo o que pode fazer? Os juízes estão a decidir como devem decidir perante o crescendo do horror? Mas não só: gostaria que os políticos se interrogassem, debatessem, se juntassem em torno de um verdadeiro drama nacional. Que a mesma inquietação pusesse em alerta os psiquiatras que nos podem ajudar a tentar “compreender” o fenómeno, mais os psicólogos. Mas também a Escola. E a Família. Estamos atentos? Estamos a vigiar comportamentos que tantas vezes se manifestam desde cedo? Estamos, todos, enquanto sociedade, interessados em não perder a batalha que é simplesmente ensinar e lutar pelo Bem contra o Mal? Ou até essa noção tão básica já se perdeu? Essa capacidade de distinguir que faz de nós (ou deveria fazer) elementos da… civilização.

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