Um político, daqueles que luta pelo destino do país, tem de perceber se tem estofo para o que o espera
Talvez seja, talvez seja, mas se ser político é muito difícil, também é verdade que ninguém vai para lá obrigado. Um político, daqueles que luta por poder, primeiro no partido, depois, quem sabe, à frente dos destinos do país, tem de perceber se tem estofo para o que o espera. O holofote permanente é desgastante, não tenho a mínima dúvida. Até eu, que não tenho a mesma notoriedade ou responsabilidade, sinto, e sei, que todas as minhas acções e palavras estão, em permanência, sujeitas ao julgamento público. Injusto ou não, a verdade é que isto instaura um “jogo de anca”, onde parecer se torna tão ou mais importante que ser. Ora, na última semana, os dois galos que hão de lutar pelo poleiro mais alto do País tiveram quebras, muito diferentes, na manutenção dos nervos de aço que devem ter. E o que me parece mais espantoso é que cada um recebe autênticas prendas que depois não sabe aproveitar. Nem vou muito mais atrás, bastará lembrar as declarações de António Costa, que confessou achar, em público, que o País melhorou nos últimos quatro anos. Que coincidem, como se sabe, com a governação PSD-CDS. Não era preciso ser adivinho ou génio para imaginar que iriam os partidos da coligação fazer com a declaração. Usá-la e abusar dela, mandando dizer ao PS que o seu próprio líder concorda que o País está melhor, logo a governação que tanto se esforçam por denegrir nem fez um mau trabalho. Embaraço para o PS, talvez? Talvez, mas não chegou a ser muito notório, uma vez que pouco depois rebentam as dívidas de Passos Coelho à Segurança Social. E agora, quem ri? Logo tem o PSD de começar a gerir o embaraço, com sucessão de declarações, nem sempre coincidentes, com esquivas, e mais tarde, desculpas autênticas. Até ao momento em que Passos Coelho diz que se esqueceu. E que, caramba, é um cidadão como os outros, e pode ter as suas falhas. Ora aí é que podemos todos discordar um pouco. Nenhum cidadão que é primeiro-ministro é igual aos outros. Não é o que se pretende. E mais: se somos todos iguais, porque não pode tanta e tanta gente esquecer-se dos compromissos fiscais e enfrentar as Finanças com a simples declaração de esquecimento, da próxima será melhor? Pois. Andavam os focos em cima do PSD, com os partidos da oposição a gozar o prato, a exigir esclarecimentos no Parlamento, mais o escrutínio das declarações do senhor primeiro-ministro, mais as exigências de demissão. Os dias a passar e talvez o principal interessado, António Costa, num silêncio misterioso. Talvez sentado em casa, aliviado pelo virar de agulha da opinião pública. Até ao momento em que sai de um evento e, na via pública (ponto muito importante), é interpelado, educadamente (ponto muito importante), por uma jornalista da SIC, que lhe pergunta, muito simplesmente, se vai falar sobre o caso de Passos Coelho, já que é um dos principais políticos que ainda não se pronunciou. A abordagem da equipa da SIC foi educada, profissional, e relevante, do ponto de vista do interesse público. Pois o que se viu foi Costa a perder as estribeiras, acusando praticamente a jornalista de lhe montar uma cilada, quando especifica que ela “não pode sair de trás de um carro”. Não me parece. Que não tenha gostado de a ver ali, está no seu direito. Mas se o jornalismo fosse só o que os políticos querem, estaríamos noutro tipo de país. Acho que ainda não estamos. Acho.