
1 Não me agrada nada escrever sobre o assunto por se tratar de um horror inimaginável. Sim, porque os há mais ou menos expectáveis. Mas nada nos prepara para isto: um céu limpo, um avião a deslizar tranquilamente nos ares, e eis que um homem decide a vida de 150 pessoas. Nem sequer com uma explosão súbita, que, na sua brutalidade, apagaria as vidas em fracções de segundo. Provavelmente, ninguém perceberia que passou de vivo a morto. O que realmente nos aterroriza nesta história impensável é a premeditação, e a lenta, lenta, lenta agonia. Confrontados com a morte que um dia nos vai bater à porta, inevitavelmente, que podemos “desejar”? Que não nos faça sofrer. Nada mais. Por isso é inacreditável pensar o que será a absoluta eternidade de 10 minutos inteiros a saber que é o nosso último dia. 150 pessoas, repito. Adolescentes, crianças… bebés. É preciso, pois, ter cuidado ao pormenor do que chamar a isto. Primeiro, foi talvez um acidente, rapidamente se percebeu que não, que o avião foi deliberadamente precipitado para a queda. E foi quando, de forma simplória, se chamou a isto um suicídio do co-piloto. Não, desculpem, mas não. Um suicídio do co-piloto é o jovem chegar a Dusseldorf e atirar-se de uma ponte abaixo. O que se passou é “apenas” um crime. Dos mais hediondos que possamos imaginar. É um massacre, com requintes de tortura. E não apenas de 150 pessoas. Mas das centenas de familiares que sofreram um choque para toda a vida. Os pais que perderam filhos, os filhos que perderam pais. Inacreditável, sim. E, no entanto, aconteceu.
2 Mais “normal”, porque mais previsível, é a contínua barbaridade dos maus tratos a animais neste país, que aprovou recentemente legislação mais dura na matéria, o que parece resultar pouco ou nada na mudança de mentalidades. A maldade não é maior ou menor consoante seja à vista ou não de todos, mas é particularmente cruel a maldade da armadilha. Em Esposende, repete-se (e repito: repete-se) que alguém coloca pelas matas da floresta iscos envenenados para matar cães. No dia em que escrevo, a contabilidade vai em 15 mortes de animais só numa semana. Há descrições horripilantes: o veneno mata em câmara lenta. Há testemunhas que viram cães a contorcer-se, de olhos arregalados, outras que os ouviram ganir, minutos e minutos a fio. Não há palavras que descrevam isto, não há insulto suficiente para esta gente. Não há compreensão humana que aguente quando a maldade, a crueldade e a cobardia se juntam a este ponto. Acresce que, se o homicídio puro e simples de animais não vos diz nada, se trata de uma zona onde muitas famílias (humanas) fazem piqueniques. Ou seja, onde não será de admirar que um dia destes uma criancinha encontre o mesmo destino dos cães. É de tremer só de pensar nisso, mas também de recear que só aí esta barbaridade receba o relevo de nojo que merece. Estes (ou estas) selvagens têm de ser encontrados rapidamente e punidos de forma exemplar. De uma vez por todas.