O ano que terminou foi particularmente turbulento, em muitos casos violento. É, talvez, o que temos achado de muitos anteriores, o que significa que isto nunca caminha para melhor. E já bem precisávamos. Houve a dose habitual de catástrofes naturais, que não dominamos, é certo, mas que se multiplicam em grande parte devido às barbaridades que fazemos ao planeta, e isto também é certo, diga o que disser Donald Trump, na sua inacreditável e insensível insolência. Mas houve, sobretudo, as catástrofes que nada têm, ou não deveriam ter, de naturais. Os brutais e cada vez mais imprevisíveis atentados.
Por entre promessas de governos, que nos garantem estar muito atentos, há também, e cada vez mais, a confissão de que não se poderá travar todos os ataques. E aqui, ao invés de nos indignarmos, há que entender, simplesmente, tristemente, entender. Chegou a altura de percebermos que os atentados não são culpa de faltas de segurança, eles acontecem nos intervalos dessa segurança, que nunca poderá ser absoluta e reconfortante, simplesmente porque isso não existe. Seja qual for a cor do Governo, seja qual for o país.
Temos de viver penosamente nesta certeza, e concentramo-nos, ainda assim, na contenção de danos que muitas polícias vão conseguindo. Apesar de a comunicação social “gostar” muito mais de atentados bem-sucedidos, para multiplicar a desgraça alarmante, há um número significativo de atentados parados a tempo, e esses deveriam também merecer destaque. Muitos analistas, perante o horror que não desiste, têm tentado encontrar o denominador comum, aquele que lhes permita continuar a pretender que analisam bem. Quase todos defendem que o mundo continuará a viver assim enquanto não se resolver a situação da Síria. E assim, a cada atentado, lá nos vêm repetir: “está a ver como eu tinha razão, a situação da Síria ainda não se resolveu e é o que se vê”. Eu, que não tenho a pretensão de ser um grande comentador, duvido que a “solução” seja tão simples.
Duvido que se resolva o horror da Síria e o mundo continue um local muito perigoso, porque os terroristas arranjarão rapidamente um outro pretexto. Pela simples razão de que o terror é sua razão de ser. Acresce, e isto é o mais dramático, que a Síria não se resolverá tão depressa, se é que alguma vez. E este final de ano trouxe-nos uma surpresa, insólita, e para mim impensável. Sabemos como as redes sociais se agitam em ondas solidárias com o povo sírio, embora a maioria das pessoas ponha bonequinhos a chorar, no conforto de suas casas, e nada mais. Mas é alarmante a capacidade actual de difusão de informação falsa, ou pior, falseada, mesmo que ela venha de “nobres propósitos”. Desprezível, portanto, que alguém tenha difundido em massa imagens de sofrimento de crianças na Síria, que eram… uma mentira. Tratava-se de fotomontagens, que nascem no mesmo sítio deplorável do jornalismo sensacionalista, com o mero intuito de impressionar e dar nas vistas.
O ano que agora começa, estou receoso, vai trazer muitos mais exemplos desta nova e vergonhosa manobra de manipulação via redes sociais. Não é isto que alguma vez vai conseguir a paz, apenas dar mais armas ao inimigo.