Diogo Piçarra sentiu que tinha de abandonar o Festival da Canção. Era já demasiada a onda de contestação, crítica, gozo e repúdio. Não haverá coisa pior do que um artista ser acusado de plágio. Concordo, e já lá vou. Mas, antes, interessa esclarecer isto: Piçarra não foi acusado de plágio. Essa acusação costuma ser feita pelo autor original, que levanta o dedo e proclama: alto lá, que isso é meu. Não consta que tenha sido a IURD a acusar Piçarra, ou sequer o verdadeiro autor, norte-americano, que compôs a música muito antes da IURD. Passa-se, simplesmente, que um frequentador das redes sociais se lembrou da música da IURD, por razões que nos escapam e não são relevantes, e foi ele ou ela a levantar o dedo: alto lá, que este Piçarra está a roubar. A partir daqui, foi o que se viu. Ou seja, há um desenlace tal e tal apenas porque o grande tribunal das redes sociais não desistiu enquanto isso não acontecesse. Esta é uma força crescente. E preocupante. Claro que pode também funcionar para o bem, e não faltam casos de denúncias importantes, de escandaleiras que ficariam para sempre em segredo se não fosse alguém levantar a lebre no Facebook. Mas hoje interessa-me o outro lado: e quando se levanta uma imparável onda que crucifica um inocente (não estou a dizer que Piçarra é inocente, não sei, só mesmo ele saberá). Começar por aqui poderá levar a pensar que esta crónica é uma solidariedade com o cantor, e que alinho com o coro de indignação dos que defendem Piçarra. Digamos que não é bem assim. As redes sociais têm um lado perigoso, sim, e ninguém está livre de ali se iniciar um incêndio de difamação. Isso é uma coisa. Outra coisa é Piçarra e os seus defensores encontrarem argumentos fracos. Um é legalista, e pretende fazer esquecer o essencial.

O outro dá vontade de rir; dizer-se que a acusação de plágio é ridícula porque a canção da IURD é de 1979 e Piçarra só nasceu em 1990. Nem comento esta profunda estupidez. Quanto ao argumento legalista, é o que nos diz que está tudo bem porque não foi apresentada nenhuma queixa formal na Sociedade de Autores. Poupem-me, por favor. Interessa pouco quem atirou a canção da IURD para o Facebook. Interessa que ela existe, e que toda a gente pôde comparar. Da minha comparação, tenho a dizer isto: são absolutamente iguais. Do princípio ao fim. Não me venham os ditos entendidos em música lembrar que há milhares de músicas à base dos mesmos acordes e blá-blá-blá. Por mero acaso, sei o suficiente de teoria musical para bocejar perante essa resposta. Sim, já sabemos, e sabemos como soam diferentes músicas com os mesmos acordes, quando os autores têm talento e uma identidade própria. Espantosa coincidência ou não, neste caso, e ao meu ouvido de leigo, as músicas são absolutamente iguais. Que diria tanta gente, se fosse o Tony Carreira? Haveria, talvez, uma escapatória, através da letra. Mas é o contrário. Piçarra escolheu falar dos “males do mundo” e das pessoas “que estão cegas e não vêem”. Não ajuda muito. Não sei se Piçarra plagiou (deliberadamente ou não), repito, e só ele saberá. O júri, repleto de especialistas, não deu por nada, e também, claro, não é obrigado a conhecer todas as canções do mundo. Sei apenas que, para mim, a sombra de plágio é a coisa mais vergonhosa que pode pairar sobre um autor.

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