Um trecho de uma entrevista de José Rodrigues dos Santos no programa “Grande Entrevista”, da RTP, está a tornar-se viral nas redes sociais e a gerar uma grande polémica. O jornalista lançou recentemente os livros “O Mágico de Auschwitz” e “Manuscritos de Birkenau”, romances com base numa pesquisa sobre o Holocausto iniciada em 2018.
O trecho foi partilhado pelo jornalista Carlos Vaz Marques no Twitter: “As câmaras de gás ou de como os nazis foram afinal bonzinhos e humanitários em Auschwitz. (Tinham-me contado, mas antes de ver não acreditei.)”. O humorista Diogo Faro também repercutiu o trecho da entrevista no Instagram.
Trecho retirado do contexto
Não demorou para alguns seguidores apontarem que o trecho está fora de contexto. Na entrevista o autor dos romances sobre Auschwitz diz que quis dar voz aos mortos no Holocausto. “Temos as histórias dos que sobreviveram porque não foram para a câmara de gás”, disse José Rodrigues dos Santos. O jornalista revela que se baseou em manuscritos feitos por sobreviventes que trabalharam nas operações de gaseamento. “Muitos deles deixaram manuscritos enterrados a descreverem o que tinham visto”.
Na sequência, José Rodrigues dos Santos fala sobre o motivo dos nazis terem feito o que fizeram. “O que é chocante é que estes guardas da SS são pessoas normais, não são psicopatas”, diz o jornalista, ao justificar que tais pessoas trabalhavam pela crença de que estavam a fazer o bem. “Nós encontrámos este tipo de raciocínio na inquisição. (…) Acreditam que aquilo é para salvar, para que encontrem o caminho de Deus. Quando os jihadistas fazem o que fazem, é também porque acreditam que vão trazer a lei de Deus para a terra”.
O jornalista explica então que, para além da “naturalização” do mal, o extermínio de judeus não foi planeado desde o início. É quando José Rodrigues dos Santos diz a frase que se tornou viral nas redes: “Aquilo foi um processo gradual que a certa altura há alguém que diz: ‘Estão nos guetos, estão a morrer de fome, não podemos alimentá-los. Se é para morrer, mais vale morrer de uma forma mais humana. E porque não com gás?'”.