Foi submetido a uma intervenção cirúrgica de urgência à cabeça no dia 8 de outubro, para remover um tumor maligno. João Ricardo, de 52 anos, está a lidar muito bem com tudo o que lhe aconteceu e encara esta situação como uma segunda oportunidade que a vida lhe está a dar. Acredita que tem uma estrelinha que o protege. O ator falou pela primeira vez e contou na primeira pessoa como foi este momento menos bom e como vai ser o futuro. O regresso às gravações da novela da SIC está para breve e vão ser conciliadas com tratamentos para travar a doença.
Que impacto teve, para si, tudo o que aconteceu nas últimas semanas?
Depois de refletir um pouco, acho que foi um susto. Estive apagado, não sabia onde é que estava. Soube uma semana depois o que me aconteceu. Isto aconteceu-me a uma sexta-feira (dia 8 de outubro), entre uma sexta e um sábado, e só no dia 22 é que tive consciência que estive à beira de me ter passado para o outro lado.
Quais são as lembranças que guarda daquela sexta-feira?
Lembro-me que estava com uma amiga e com o meu filho, Rodrigo, e com a filha dessa amiga e que, de repente, desapareci, apaguei. É esta a palavra que melhor descreve o que me aconteceu.
Nunca teve sintomas, nunca se apercebeu de nada estranho antes de isto acontecer?
Não, nada! Nunca me apercebi de nada, nunca desmaiei na minha vida, não sei o que isso é.
E depois, como reagiu quando acordou deste apagão?
Acordo e é quando me dizem que fui operado à cabeça. Estava bem, tranquilo, aceitei. Para mim, é uma doença como outra qualquer. Tenho de resistir e, se calhar, sirvo de exemplo para alguém.
Ouviu os médicos e aceitoude imediato o que lhe foi dito? O que lhe explicaram?
Que o tumor estava localizado numa zona mais frágil, que é um cancro maligno, mas apoio-me numa coisa superior que é Deus e que é Cristo. Acredito que existe alguém que me protege, e tenho à minha volta as pessoas que me protegem.
Depois de ouvir o seu diagnóstico, já sabe com que armas vai enfrentar a doença?
Quero ter a minha vida, mas agora com mais juízo! Quero ter a minha vida normal, não quero ser tratado como fui até agora, “o coitadinho”, “o desgraçadinho”. Dizem-me sempre para ter cuidado com isto, ter cuidado com aquilo e se tiver tantos cuidados não morro da doença, mas vou morrer da cura.
O que vai mudar na sua vida daqui para a frente?
Vou agarrar-me mais à vida e continuar. Quero trabalhar e ter mais juízo em algumas coisas, nomeadamente na alimentação que faço. Já tinha alterado muita coisa, mas agora sei que é preciso alterar ainda mais.
Como que o seu filho viveu esta situação?
Acho que ele teve a perceção que esteve ali à beirinha de perder o pai. Devagarinho foram-lhe explicando. Ele assistiu à entrada do pai no hospital e percebeu que eu ia ficar ali. Com esta situação ele ficou mais fragilizado e está ainda mais mimado.
Como foi o reencontro com o seu filho?
Sendo ele mimado, quis abusar, porque percebeu que o pai não estava assim tão mal!
O Rodrigo fez perguntas, teve curiosidade em saber o que aconteceu?
Ele viu o pai com esta cicatriz e, como ele acha muita graça ao Frankenstein, fez essa associação, mas não fez perguntas.
Passou a dar mais valor a algum aspeto da sua vida?
Sim, agora valorizo mais os meus amigos, a vida. Tenho de me agarrar mais à vida. Tenho um filho com 12 anos e era muito cedo para acabar tudo. Ainda sinto alguma dificuldade em falar e em algumas coisas (emociona-se). É isto que sinto, porque de resto estou bem! Não me sinto cansado.
Qual foi a primeira coisa que fez assim que teve alta do hospital?
Fui ver televisão. Adoro! Queria estar ligado ao mundo. E falar com o amigos também.
O que lhe dizem os amigos agora?
Dizem todos a mesma coisa! Tenho de ter juízo, tenho de ter juízo! É isso que oiço quando me ligam. E o que é isso de ter juízo?
Sentiu-se amado neste momento menos bom?
Senti, muito! Recebi muito amor, das pessoas que me foram visitar, das que não me conhecem e que transmitiram a preocupação e me desejaram as melhoras através das mensagens que me deixaram. Há o ego, e também fui curado através do ego.
Falou de uma proteção…
Sim, senti-me protegido, porque nesta altura começo a questionar o que vai acontecer, se vou, ou não, ter trabalho. Sinto que tenho uma estrela que está comigo, uma estrelinha a olhar por mim, e não só.
Foi surpreendido por alguém?
Tive o António Parente [da produtora SP Televisão] ao pé de mim, uma pessoa que admirei toda a vida e esteve lá, não com uma postura de “tens de trabalhar” mas para me transmitir força e confiança, para me sossegar.
Como vai ser a recuperação?
Vou ser submetido a um tratamento que tem a duração de seis meses, de quimioterapia e radioterapia.
Isso vai obrigá-lo a alterar as suas rotinas? Consegue conciliar com as gravações da novela?
Tudo se vai conciliar. Vou fazer os tratamentos de manhã, no hospital, e depois vou gravar à tarde. Fica tudo igual!