Nome incontornável da apresentação, mas também da produção de conteúdos televisivos do nosso país, Teresa Guilherme, de 62 anos, decidiu relatar em livro os momentos que considera mais importantes, tanto a nível profissional como pessoal. “Cheguei Onde Me Esperavam” é um manual inspirador.
1 Casamento com goucha
“O meu tão falado e acreditado, porém falso, casamento com Manuel Luís Goucha terá sido feito no Céu, mas começou a manifestar-se publicamente no Eterno Feminino, o primeiro programa que apresentei na televisão. O Manuel Luís, ainda a dar os seus primeiros passos na televisão, era o dono da cozinha do programa. (…) Já nos conhecíamos há muito, éramos ambos solteiros, em idade casadoira, e havia ali qualquer coisa que levou muita gente a ter a certeza que éramos feitos um para o outro, e quiseram que déssemos o nó. Logo a seguir, partilhámos a apresentação de um programa chamado Olha que Dois. Aí é que as pessoas deixaram de ter dúvidas. Aqueles dois, ou seja, nós, eram mesmo um só. (…) Entretanto, casei-me. Desta vez de verdade. E as pessoas ficaram a achar que eu tinha abandonado o pobre Manuel Luís. (…) não é o amor da minha vida, mas é um amigo para toda a vida.”
2 O sucesso de Floribella
“Eu começava a ter dúvidas: existiria a Floribella que habitava no meu pensamento? Ou estaria a colocar a fasquia demasiado alta? Até que um belo dia nos caiu do céu a Luciana Abreu. Ela foi ao casting levada pelo namorado, o João Paulo Rodrigues, que, como sabia que detesto cunhas, não me falou do romance. Passar-se-iam meses e o namoro acabaria para eu descobrir essa história! (…) Tinha o visual certo e sabia representar. Eu só repetia para mim mesma uma prece: ‘Deus queira que ela saiba cantar’. E Deus quis. A Luciana cantou. Chorei de alegria, comovida por aquele achado. Uma bênção? Não era possível, era perfeita demais! Era tudo o que imaginara! A doçura, a voz, a beleza. Batia tudo tão certo, tão certo… que me assustei. A Floribella foi uma dádiva para mim e para a Luciana. Por um lado, encontrei a atriz que procurava para me afirmar como produtora de novelas, por outro, a Luciana lançou a partir dali uma carreira que não vai parar enquanto ela não quiser.”
3 Teresa, a caça-talentos
“Conta o João Paulo [Rodrigues] que um dia, do nada, eu lhe disse: ‘Tu vais ser apresentador!’ Ele não acreditou na altura, e confesso que não me lembro dessa minha saída certeira. Aliás, ele está longe de ser o único que ‘vi acontecer antes de ter acontecido’. A Luciana Abreu ganhou o seu lugar quando juntas fizemos a mágica Floribella. A Cristina Ferreira já tinha um brilho especial como minha aluna e tive uma previsão certeira quando lhe ofereci as câmaras para os seus primeiros, de muitos, 15 minutos de fama.”
4 Sustos de morte
“Estava em Bali, num dos sítios mais bonitos do mundo. (…) Em segundos, levantou-se do mar um turbilhão formado por milhares de pequenos peixes prateados que batiam violentamente uns contra os outros… e contra mim. Comecei a correr para terra, o mais rápido que a água e o pânico me permitiam, fugindo desesperada a gritar, mas a tapar a boca com as mãos, com medo que as escamas voadoras me sufocassem. Fui disparada até à beira–mar, perseguida sem dó nem piedade por uma gigantesca nuvem de peixes que me magoavam as pernas, os braços e a cara. (…) Apesar do risco, não sou uma apresentadora dada a nervoso miudinho, a não ser naquele minutinho que antecede a entrada. (…) Mas, nesse dia, fiz exatamente a mesma brincadeira, só que o resultado final foi bem diferente. Fingi que ia para trás e o Diogo [Peres, assistente de realização], em vez de me empurrar para a frente, como sempre fazia, deitou-me a mão à gola do casaco e puxou-me com tanta força para trás que acabámos os dois estatelados no chão. Não fomos os únicos a desabar. O follow spot [grande projetor de luz] desprendera-se lá do alto e caíra exatamente no sítio onde eu ia entrar. Fez um enorme buraco no palco, já que pesava para cima de 100 quilos, e esmagou de susto também a nossa alma.”
5 A zanga com Emídio Rangel e o “Big Brother”
“Adorei fazer este programa [Passeio da Fama, na RTP1], mas o Rangel ficou furioso. Mesmo que fosse só como produtora e sem dar a cara, ele não me queria a fazer programas para outros canais. (…) O Rangel conhecia-me bem, sabia onde me magoar mais, e atacou. Tirou-me o programa de fim de ano, depois de eu sempre o ter produzido para a SIC com imenso sucesso. (…) Gritei-lhe em jeito de praga: Juro-lhe que vai arrepender-se. Ainda vou a tempo. A verdadeira mudança de milénio é este ano, de 2000 para 2001. Fez-me sofrer sem justificação, vai ser castigado. Garanto–lhe que vai lembrar-se de mim na próxima
passagem de ano, e depois já vai ser tarde. Foi nesse ano que, meses depois, aconteceu o Big Brother. Nada voltaria a ser como dantes, nem para mim nem para a SIC . A passagem de ano na TVI foi avassaladora. Portugal parou para comemorar em direto comigo a vitória do Zé Maria. A minha profecia concretizara-se.”
6 Supersupersticiosa
“Eu, tirando o dia 13, que até acho que é uma data que me dá sorte, tenho por sistema adotar todas as superstições interessantes que me vão aparecendo na vida e inventar mais algumas que me dão segurança. (…) No Big Brother nasceu uma superstição diferente e rara, porque era coletiva. Partilhada por grande parte da equipa técnica, mas que de início passou despercebida à maioria do público. Havia sempre uma garrafa de água, a mesma sem tirar nem pôr, em cima da mesa. (…) Todos vão continuar a vê-la nos programas que apresento, porque já está na minha vida há 16 anos e não quero passar sem ela.”
7 A gaffe com Sara Tavares
“Um dia decidimos transformar o programa [Não se Esqueça da Escova de Dentes] num Ponto de Encontro, em que o objetivo era unir as famílias espalhadas por todo o mundo, que a falta de dinheiro teimava em não juntar. (…) A convidada desse programa era a Sara Tavares. Descobrimos que ela, na altura com pouco mais de 20 anos, não via o pai, emigrado nos Estados Unidos, há mais de 12 anos. (…) No entanto, pelo cantinho do olho, enquanto apresentava o programa, comecei a reparar que a Sara e o pai não trocavam uma palavra. (…) O pai era na realidade um desconhecido, com a agravante de nunca, em tanto tempo, ter tentado mudar o estatuto de pai ausente para presente.”
8 Dedicatória especial
“Ao Miguel Dias, o amigo que todos gostariam de ter. Sem o seu apoio, este livro não teria acontecido.”