
Ao deixar a SIC, com quem tinha contrato até 30 de novembro de 2022, para voltar para a TVI, Cristina Ferreira abriu uma guerra entre partes, que continua a dar que falar. Depois da estação de Paço de Arcos ter avançado para tribunal com uma queixa contra a apresentadora e um pedido de indemnização que ultrapassa os 20 milhões de euros por quebra de contrato e não só, é a vez da atual diretora de Entretenimento e Ficção apresentar a sua defesa, depois da recusa em pagar a indemnização pedida, como explicou em entrevista no “Jornal da 8”, referindo que se mantém tranquila em relação à empresa de onde saiu por sua vontade.
“Tive conversas anteriores em que disse o que estava a sentir. A partir do momento em que me surge esta oportunidade, não olhei para trás. Vinte milhões de euros não me tiram o sono, o número não tem qualquer fundamento. Há uma indemnização que eu sei que vou pagar, o resto trataremos em tribunal.” Assim sendo, a advogada de Cristina entregou em tribunal um pedido de extensão de prazo para apresentar a defesa no âmbito de processo interposto pela SIC. De acordo com o jornal “Correio da Manhã”, a causídica alegou ter muitos documentos para analisar.
O requerimento foi aceite pelo juiz no passado dia 15 de outubro e Cristina Ferreira tem mais 30 dias para elaborar a sua tese de defesa e responder à justiça. A diretora da TVI deverá não só fazer prova, como apresentar testemunhas para que o tribunal possa decidir quanto ao andamento do caso. Este adiamento, de acordo com fonte, poderá ter sido pedido, pois Cristina terá mudado de advogados, passando a ser a L:A:W, Advogados Associados, através de Sofia Louro, a representá-la. A advogada ficou com 40 páginas para serem analisadas.
Ao que a TvMais conseguiu apurar, a sua estratégia inicial de defesa baseava-se na justa causa, mas poderá mudar com este adiamento. Em finais de agosto, foi a Telles Advogados que reuniu com a PLMJ, que representa a SIC, mas já não estará a trabalhar com a diretora do canal de Queluz, como conseguimos saber. Já o valor exigido pelo canal de Balsemão prende-se com o incumprimento do contrato e os prejuízos calculados por perdas de receitas em IVR, publicidade, patrocínios e ações comerciais. No processo, a SIC fez constar algumas declarações de Cristina no “Jornal das 8” e “Você na TV!”, o que, de acordo com a estação, são prova também de que, além da quebra de contrato, a apresentadora violou o dever de confidencialidade que tinha.
Negócio ainda não foi feito
Apesar de Cristina ter formalizado a sua intenção de compra de 2,5% da Media Capital com um contrato de promessa, anunciado pela CMVM no dia 4 de setembro, referindo até que utilizou o dinheiro das suas poupanças – neste caso mais de um milhão de euros – para fazer parte da estrutura acionista da empresa, o negócio pode não ser formalizado. O mesmo é válido para a entrada de outros acionistas, entre os mais famosos Lourenço Ortigão, Tony Carreira e Pedro Abrunhosa, pois o negócio está “sujeito a determinadas condições suspensivas, da verificação dos quais depende a realização da transação”, consta no contrato.
Neste momento, a venda do capital da Prisa a outros acionistas, nomeadamente à Pluris de Mário Ferreira, está sob processo. A ERC abriu processo de contraordenação contra o empresário do norte e os espanhóis da Prisa pela compra da Media Capital, com vista à aquisição de 30,22%, acordo firmado a 10 de abril. Em causa, diz o conselho regulador, está a “existência de fortes indícios de ocorrência de uma alteração não autorizada de domínio nos operadores que compõem” a Media Capital, nomeadamente TVI e Rádio Comercial. Se for comprovado que houve uma alteração de domínio na atividade da dona da estação de Queluz, Mário Ferreira e a Prisa arriscam uma coima situada entre os 75 mil e os 375 mil euros e a suspensão da licença pelo período de dez dias. “A alteração do domínio sem a necessária autorização da ERC, prevista em lei com caráter imperativa, envolve a nulidade do negócio”, explica o regulador na sua deliberação. E tudo atrasa o processo.
CMVM também já se pronunciou
A entidade que regula a Bolsa de Valores também já avaliou e deu o seu parecer sobre a compra da TVI pela nova estrutura acionista e chegou à conclusão que Mário Ferreira é obrigado a lançar OPA à dona da TVI, pois considera que há concertação entre a Prisa e a Pluris. Ferreira tem dez dias à data da publicação da CVMV para se pronunciar.
“A CMVM conclui preliminarmente, em face dos elementos e fundamentação disponibilizados pelo requerente e das diligências realizadas pela CMVM (incluindo a audição e a solicitação de documentação a diversas pessoas e entidades com ligações à Media Capital), que os acordos celebrados entre a Vertix/Prisa e a Pluris/Mário Ferreira e a conduta das partes instituída na sequência dos mesmos configura o exercício concertado de influência sobre a Media Capital, manifestado, entre outros, na (re)composição do seu órgão de administração, na redefinição do plano estratégico da sociedade e na tomada de decisões relevantes na condução dos seus negócios”, pode ler-se.
Ora, se houver OPA (Oferta Pública de Aquisição) às posições minoritárias, o dono da Douro Azul terá o grupo Cofina como hipotético concorrente. Todos estes acontecimentos põem em causa, novamente, a venda da Media Capital e deixam tudo e todos em stand by até as partes envolvidas se pronunciarem.
E o que têm estas questões a ver com Cristina Ferreira? Pode não vir a ser acionista como se previa, deixando-a numa posição de poder diferente da que imaginara, até porque já afirmou não querer voltar a sair da casa onde começou a trabalhar como apresentadora. Também não terá tão cedo a injeção de capital de que a TVI precisa. Contudo, o seu contrato não se altera e manterá certamente o cargo e as responsabilidades que lhe foram entregues. Só poderá ser, eventualmente, prejudicial para a nova diretora se a Cofina também quiser avançar com negócio. A apresentadora já fez sentir junto dos mais próximos que não se via a trabalhar com um grupo que tem títulos que já processou.
“Viva Vida” não vingou
No último “Viva Vida”, conduzido por Ruben Rua e Helena Coelho, a convidada principal foi Cristina, mas esta não conseguiu alavancar as audiências. O programa obteve uma média 13,9% de quota de mercado (share), 431.100 espectadores, enquanto “E-Especial”, de Sofia Cerveira e Ricardo Pereira, obteve uma média de 14.4% de share, com 448.000 espectadores. Apesar da pequena diferença, foi a SIC quem ganhou.