
Um filme com que já se tinha comprometido e o avanço da pandemia da Covid-19 levaram-na a deixar mais cedo “Amor, Amor”, da SIC, mas o público ainda vai soltar muitas gargalhadas com a sua Paloma. Feliz por voltar ao registo mais cómico, Rita Blanco não esconde a alegria com este desafio e só lamenta ainda não ter sido desta que reencontrou Alexandra Lencastre.
Está no ar na novela “Amor, Amor” como Paloma, uma cantora em fim de carreira que perde a voz. Como foi a sua preparação?
Todos nós conhecemos cantores de música popular portuguesa. Como é óbvio, também oiço esse género. E como já fiz tantas personagens na vida, algumas têm semelhanças… Mas esta personagem, por exemplo, tem uma enorme admiração pela Amália. E ela acha que tem muita classe, inspira-se muito na Amália. Não que cante fado, mas é a diva dela.
Como foi gravar a cantar?
Muito divertido. A verdade é que não houve muito tempo de preparação e até pensava: “Ai, meu Deus”. Mas o Toy fez um milagre. Eu não desafino, mas não sou cantora de maneira nenhuma, não tenho essa capacidade. Até porque só canto uns bocadinhos, no concerto que ela deu foi-se logo a voz. E depois na outra em que está a ensaiar, a conhecer aquela música pela primeira vez, também é só um bocado, portanto não foi complicado.
Disse-me que está habituada a ouvir música popular. Qual a primeira que lhe vem à cabeça?
[Começa a cantar a música “Perfume de Mulher”, de Ágata] “Sai, sai da minha vida, não te quero mais, sai que eu morro de ciúme”…
O que podemos ainda esperar desta novela?
Este é um mundo muito colorido, tem muitas coisas a acontecer. É um universo pelo qual as pessoas têm curiosidade. O mundo da música popular tem muito sumo para o drama fácil, para os acontecimentos. É divertido, com muitas personagens exuberantes e com muitas coisas a acontecerem.
A Paloma tem um visual exuberante. Ajudou logo a encontrá-la?
Ajuda muito mesmo. Eu não usaria nada daquilo [risos]. Por acaso acho que ela se veste lindamente, sempre com veludos, usa fato e gravata e nesta altura é ótimo, dá-me imenso jeito porque fico quentinha. Ela tem a mania que tem pinta. Por exemplo, eu nunca pintaria as unhas. Para mim tem sido um drama, porque depois chego a casa e ao pôr as coleiras aos cães salta-me logo a porcaria do verniz, porque não pus unhas falsas, são mesmo as minhas…
Teve de ter mais cuidados…
Já tinha tido em outras personagens, mas muitas vezes puseram-me gel, mas desta vez não quis, são as minhas próprias unhas. Claro que estou sempre a fazer asneira, como acontece a todas as mulheres que têm uma vida em casa. Eu lavo loiça, mexo nas coisas. Então para pôr as coleiras dos cães é do pior!
Como foi o processo de gravações?
Muito agradável. Ainda por cima há a agravante, no bom sentido, claro, de as novelas terem uma duração longa, há uma altura em que as pessoas começam a ficar muito cansadas, e nunca cheguei a essa fase. Tive de sair mais cedo, sabia que só podia gravar até 15 de dezembro, eles sabiam, foi esse o acordo, e conseguimos gravar tudo até lá. Estava a ficar um bocadinho nervosa, mas felizmente correu tudo bem. Estava sempre em pânico a pensar que bastava um caso… E houve, tanto é que as últimas duas semanas de gravações foram um bocadinho puxadas porque se acumularam muitas cenas. E estava sempre com medo: “Meu Deus, se eu apanho Covid, para além de ser horrível, ponho em causa tanta coisa”. E isso, felizmente, não aconteceu.
Vive com medo de contrair a doença?
Sobretudo porque naquilo que faço ponho em causa o trabalho de muita gente e isso dá-me o dobro da responsabilidade, para além de que não queria nada apanhar Covid. Com esta idade pode ser muito mais perigoso, ter muitas sequelas e, além disso, o que me assustava mais é que punha muita coisa em causa: se apanhasse Covid, punha em causa a novela e o filme do [realizador] João Canijo. Não era a minha vida, é a de muita gente. E isso é aterrorizante, é um peso horrível. Confesso que no dia em que terminei de gravar me saiu um peso de cima, saber que isto já está feito e não pus nada em causa. Consegui fazer o trabalho todo sem estragar a vida a ninguém e agora vou para o outro filme, esperando que tudo vai correr bem. Mas aí estamos confinados. Fizemos o teste antes de ir e ficámos muito fechados só num sítio. São dois meses e meio de gravações.
Sobre o que é o filme?
É sobre o ser mãe, ser filha… Trabalho com a Vera Barreto, a Cleia Almeida, a Anabela Moreira, a minha querida Madalena Almeida, que vai ser minha neta, a Beatriz Batarda, o Nuno Lopes…. São as pessoas com quem normalmente o Canijo trabalha.
Como foi despedir-se da Paloma?
Diverti-me imenso a fazê-la! Não é uma pessoa igual a mim, esta coisa das roupas, os penteados e a própria personagem… Não quis fazer um boneco, queria fazer uma pessoa que pudesse efetivamente existir e foi mesmo divertido. Esta coisa de não ser muito tempo, não deu aquela exaustão de trabalho. Então, saí no auge da alegria e deixei-os. “Vá, agora trabalhem uma data de meses”. Foi um projeto ultraleve, muito feliz, diverti-me imenso com esta personagem. Ria-me imenso com ela.
Já tinha saudades de um papel mais leve?
Já, sim. Foi delicioso. Ela não sofre nada, é só a parte boa.
Levou as músicas para casa? Ou ficou tudo em estúdio?
Agora ficou lá tudo, não pode ser. O pimba acabou por agora. Mas há imensas músicas engraçadas de ouvir e de que nós gostamos bastante.
Há alguma cena que a tenha marcado?
Houve algumas muito divertidas por darem muita vontade de rir.
Como é que se controla?
Às vezes controla-se, outras nem tanto. Um dia fomos fazer uma cena e ainda não tinha contracenado com a Rosa do Canto, de quem gosto imenso. Tenho imenso gosto em trabalhar com ela e isso nota-se, porque ficamos tão bem-dispostas, porque dá logo vontade de rir pela excitação. E depois desmanchámo-nos a rir duas ou três vezes e estávamos a ver que não conseguíamos avançar. Isso é uma situação que me é agradável. Adoro ter vontade de rir, depois não quero rir na cena, mas o dar vontade de rir é sinal de que nos estamos a divertir imenso.
Ficou com pena de não contracenar com a Alexandra Lencastre?
Fiquei, fiquei. Até tínhamos ido à “Casa Feliz” falar disso. Fiquei com imensa pena porque acho que era um papel à medida dela, mas que está a ser muito bem desempenhado pela Luísa Cruz, que é uma atriz excecional e que faria qualquer papel bem. Mas tive pena porque achei que era um papel que a Alexandra poderia gostar de fazer e teria imenso gosto em fazer com ela. Mas também tive imenso gosto fazer com a Luísa, com quem já trabalhei imensas vezes, sobretudo em teatro, e por quem tenho enorme admiração. Mas estava à espera de ir trabalhar com a Alexandra e era um reencontro que podia ser muito feliz.