Um ano depois de se ter tornado numa estrela exclusiva do canal do grupo Media Capital, foi finalmente comunicado o vínculo de Tony Carreira à TVI. O anúncio foi feito com um envio de uma nota às redações, sendo que ninguém desconfiava de que esta parceria já durava há um ano. “Em outubro de 2020, o músico e compositor Tony Carreira formalizou um contrato de exclusividade com a TVI. Esta foi a primeira vez que o artista celebrou um contrato de exclusividade e é também a primeira vez que a estação celebra um acordo com um artista musical”, pode ler-se. O anúncio deveria ter sido feito com toda a pompa e circunstância ainda em 2020, quando se deu o acidente que vitimou a sua filha, Sara, a 5 de dezembro do mesmo ano. Os planos saíram furados e, perante as circunstâncias, o músico prontificou-se a rescindir o vínculo. “Quando aconteceu esta tragédia na minha vida, fui sincero com o canal e disse que não estava em condições de trabalhar, portanto estão completamente à vontade para rompermos este contrato, não me podem obrigar a trabalhar, porque não estou em condições de trabalhar; não quero fazer absolutamente nada, quero paz, portanto, ponho-vos completamente à vontade, uma vez que não vou cumprir com aquilo que prometi, estão completamente à vontade para rescindir contrato e amigos como dantes”, disse numa entrevista ao “J8” conduzida por José Alberto de Carvalho no dia em que foi anunciada a sua contratação. Ainda assim, a direção da estação colocou-o à vontade, algo que deixou o pai de Mickael e David Carreira muito agradecido: “Nesse sentido estou-lhes muito grato e é por isso que digo que sinto muito orgulho, porque naquela altura o que me disseram foi: Quando sentires que estás em condições de trabalhar e te apetecer trabalhar, começamos. Foi exatamente o que aconteceu”, acrescentou.
À primeira vista, poderia pensar-se que, com esta entrada do “cantor dos sonhos” na estação de Queluz de Baixo, a sua relação com Cristina Ferreira, diretora de Entretenimento e Ficção do canal, tivesse voltado ao que era e os dois fizessem as pazes, mas tal não terá acontecido. Os dois continuam de costas voltadas. Na referida entrevista, o artista dá a entender que a apresentadora em nada teve que ver com a sua contratação. “Acho que a Cristina Ferreira não estava no canal sequer quando entrei em outubro; a negociação começou muito antes, em agosto, salvo erro”, revelou. Mas a responsável começou a trabalhar a meio de julho – logo após a conturbada saída da SIC – e tendo ficado a cargo da pasta do Entretenimento, esta seria uma contratação que, na teoria, teria, inevitavelmente, de passar por ela. Curiosamente, nessa altura, os dois ainda não estariam zangados, segundo apurou a TvMais, uma vez que a assinatura do vínculo se deu logo no início do mês e a 15 de outubro do mesmo ano, estiveram juntos no programa “Dia de Cristina” para uma animada conversa. Foi a última vez que estiveram lado a lado num evento público.
A verdade é que o músico terá tratado de tudo com a direção-geral, da qual, à época, faziam parte Nuno Santos, então diretor-geral, e Hugo Andrade, o seu adjunto e que hoje, após a mudança do primeiro para a direção da CNN Portugal, se tornou diretor-geral-interino. Aliás, a amizade que une este último ao cantor é de longa data e terá mesmo sido ele o pivô de toda a contratação. “O Hugo e o Tony são amigos há muitos anos e foi ele quem o desafiou para este projeto. Tanto é que quando o Tony deu a entrevista ao Manuel Luís Goucha [em maio deste ano], quem supervisionou tudo foi o Hugo. Há uma relação de extrema confiança entre ambos”, diz-nos uma fonte que bem conhece os dois. Na sua página no Facebook, o responsável saudou a chegada do amigo. “No momento em que lança um novo disco, na altura em que o nosso trabalho conjunto vai passar a ser visível, fico particularmente feliz por termos o Tony connosco. O Tony é um grande amigo mas neste caso é ao artista que quero dar novamente as boas-vindas. Ter o Tony a trabalhar connosco é uma grande alegria, mas também uma grande responsabilidade. Todos temos de estar à altura do artista mais próximo dos portugueses. É por eles e é para eles que trabalhamos todos os dias. Bem-vindo, meu amigo”, escreveu.
Já no que diz respeito a Cristina Ferreira, pela primeira vez em muito tempo, a diretora comentou em público a chegada do músico ao canal, ainda que, aparentemente, de forma diferente daquela com que sempre trata “os seus” e “as suas estrelas”. “A TVI divulga hoje que Tony Carreira é parceiro da estação, desde outubro de 2020, com um contrato de exclusividade e uma série de projetos a serem trabalhados. Por respeito a tudo o que aconteceu só agora decidimos divulgar esta informação. Até porque, em breve, serão reveladas muitas surpresas”, foi assim que a diretora de Entretenimento e Ficção fez o anúncio nas suas redes sociais.
Fonte próxima do clã Carreira garante à nossa revista que tanto Tony como a sua ex-mulher, Fernanda Antunes, continuam sem ter qualquer tipo de laço ou relação com a apresentadora. “Não há pazes nenhumas feitas. A Cristina continua a ser persona non grata. Eles estão muito magoados com alguma coisa que ela fez, apresar de não se falar no assunto. Percebeu-se que tinha havido divergências entre eles quando mandaram tirar dos escritórios tudo o que havia relacionado com a Cristina, nomeadamente os pósteres de uma campanha que ela fez com o Mickael para a LR Health & Beauty”, revela a nossa fonte. Muitos dos que são próximos ao músico sabem que o ex-casal ficou desagradado porque Cristina Ferreira, alegadamente, não terá dado resposta sobre a eventual participação de Sara Carreira numa novela da TVI, mas acreditam que algo mais se passou. “Não foi só esse episódio da novela, foi mais grave”, sublinha a nossa fonte.
O que o esperana TVI
Um dos grandes fatores que motivou o contrato entre o artista e o canal de Queluz de Baixo foi a produção de uma série biográfica ficcionada sobre a sua vida, que deverá ser lançada em 2022, uma vez que celebra 35 anos de carreira em 2023. Aliás, o músico diz mesmo que no passado a propôs a outras estações, que o terão rejeitado. “A ideia dessa série já a propus a muita gente nestes anos que passaram e foi a TVI que me deu as condições para que isso acontecesse”, clarifica o intérprete, que tem na sua cabeça a inspiração certa para esta produção: “Vi em tempos um filme que adorei, ‘Os Filhos de Francisco’ [produzido em 2005], a história de Zezé di Camargo e Luciano, de quem sou amigo, e achei que um filme bem feito. Já fiz alguns documentários – um de que me orgulho muito e que foi exibido no cinema e que dizem ter sido o documentário mais visto de Portugal de sempre – mas queria fazer uma coisa em grande, uma coisa bonita. A TVI achou que essa proposta faria sentido”, acrescenta. O projeto já está em marcha e Tony Carreira assegura que já falou com o canal “sobre quem seria hipoteticamente o realizador, os atores”. Mas, em jeito de brincadeira, deixa um aviso: “Agora está sempre condicionado a que eu goste de ver o Tony [o ator] que eles vão pôr”. Para além desta série, a estação do grupo Media Capital vai acompanhá-lo em concertos e lançamentos dos seus álbuns e outros trabalhos que estão no segredo dos deuses. Aliás, um dos singles do novo disco, “Recomeçar”, terá ainda uma ligação muito especial. Segundo apurou a TvMais junto de uma fonte, será a música de genérico da nova novela da TVI, “Para Sempre”, protagonizada por Inês Castel-Branco e Diogo Morgado, que, curiosamente, retrata a busca de um homem pelas suas origens e pela sua família e cuja estreia deverá ocorrer nos primeiros dias de novembro. Sem confirmar esta informação, a estação já admitia em comunicado que o novo trabalho discográfico de Tony Carreira “tem algumas surpresas relacionadas com a ficção da TVI”.
O cantor, que há cerca de um ano se tornou acionista do grupo Media Capital ao integrar a sociedade Biz Partners, que adquiriu 11,9725% das ações da estação, tem 1% de ações, mas nega que este investimento tenha algo a ver com o contrato agora anunciado. “Não tem absolutamente nada a ver”, assegura, explicando: “Tenho 1%, o que é simplesmente ridículo naquele investimento. Perguntei a amigos que não têm nada a ver com o canal, disseram-me que era um bom investimento. E num investimento umas vezes ganhamos, outras vezes perdemos. Já fiz investimentos em que perdi, outros em que ganhei”. Neste caso em concreto, garante que ainda nada ganhou com o negócio. “Por enquanto, para o meu lado [o balanço] é negativo, mas espero que venha a ser positivo. Não me posso dar ao luxo neste momento de perder muito dinheiro, mas acredito no projeto e torço para que realmente seja bom. 1% é pouco, mas é dinheiro.” Apesar deste vínculo à estação de Queluz de Baixo, Tony continua associado à SIC através da Associação Sara Carreira, da qual é um dos membros da direção, e que tem como parceira o canal do grupo Impresa. Fonte oficial da SIC confirmou à nossa revista que a estação vai transmitir uma gala de Natal promovida pela referida associação que visa ajudar crianças e jovens desfavorecidos a terem um futuro profissional.
À espera de respostas
Dez meses após o trágico acidente de viação que ceifou a vida de Sara Carreira, de 21 anos, na A1, perto de Santarém, o intérprete continua sem saber o que realmente aconteceu naquele fim de tarde fatídico de 5 de dezembro. O clã Carreira aguarda pelas conclusões das investigações, nomeadamente o relatório do Ministério Público de Santarém sobre o acidente. Na entrevista ao “J8”, o “cantor dos sonhos” afirmou estar a ser cruel esta espera por respostas. “Ainda não sei nada do inquérito, não sei o que aconteceu, estou à espera. O que me dizem é que dura três, quatro anos, que acho desumano; cruzo-me com montes de pais que vêm ter comigo para eu ser o porta-voz de uma situação que acho desumana.” Sabe-se, porém, de acordo com o que foi divulgado na imprensa, que a seguradora responsável pela cobertura do automóvel em que circulava Sara Carreira já fez uma proposta de indemnização à família pela morte da jovem, sendo que os danos da viatura já foram integralmente pagos. Esse valor, que obedece a critérios que se encontram padronizados na jurisprudência portuguesa e que recorre a dados técnicos estabelecidos internacionalmente para as tabelas de mortalidade, está fixado entre os 50 e os 100 mil euros.
Trabalhar para continuar a viver
Tony toma as dores de todos os pais que perderam os seus filhos e confessa que o estúdio, onde tem passado muitas horas a escrever e a compor para Sara (está a preparar um álbum dedicado à filha que deverá sair no próximo mês), tem sido o seu porto de abrigo. “Ao contrário de muitos pais que passaram pela tragédia que estou a passar – a minha dor é igual à deles –, a música tem uma cena mágica e tem-me feito muito bem. O meu refúgio nesta dor foi o estúdio, foi lá que me fechei muitas vezes para chorar, mas consegui encontrar alguma felicidade dentro daquelas quatro paredes. Tenho uma empresa que deixei de gerir – façam vocês a gestão – porque eu quero fechar-me aqui dentro”, contou na entrevista. O cantor, que já havia revelado que tem por hábito ir ao Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, onde a filha jaz, com bastante frequência, pois dessa forma se sente mais perto de Sara, confessou que durante muito tempo visitou o local do acidente. “Nesse sítio tinha o hábito de ir lá pôr uma vela, punha o carro na berma mesmo da estrada, no limite de algum perigo”, revelou.
O músico já tem agendados dezenas de espetáculos e, em todos eles, será certamente recordada a sua princesa, tal como aconteceu nas últimas vezes que subiu a palco, nomeadamente no mais recente concerto que deu, nos arredores de Paris, a 10 de outubro. “Quando estou em palco tento procurar um sinal da minha filha, qualquer coisa. E há momentos que são duros, muito difíceis, porque esta perda é uma coisa que jamais vou superar”, disse. Tony acredita que a filha lhe envia sinais e sente-se reconfortado com a sua crença. “Agarro-me àquilo que posso, se vejo passar uma borboleta, quero acreditar que é um sinal dela, agarro-me a certas coisas que pontualmente me fazem bem e claro que tenho momentos em que caio. É possível que esteja em palco e que me aconteça”, disse.