O cantor de 25 anos era ainda uma criança quando viu o pai em coma na cama de um hospital. “Não é suposto dizerem a um miúdo de 10 anos que o pai pode não sobreviver a um acidente”, começa por contar Fernando Daniel em “Alta Definição”, da SIC, e acrescenta: “Estava a brincar na estrada com amigos. Fui para casa, o meu pai era suposto estar lá, e não estava. Fui até ao café que ele frequentava e pediram-me para lá ficar que vinha um tio buscar-me e percebi que algo se passava. Fiquei em pânico”. Com a voz embargada pela emoção e em lágrimas prossegue: “Uma tia foi buscar-me e disse-me disse que o meu pai tinha tido um acidente de mota, tinha sofrido um AVC enquanto conduzia e estava no hospital. Que as coisas podiam não correr bem e para me preparar porque podia ficar sem pai. Fui visitá-lo ao hospital e ele estava em coma. Lembro-me de lhe ter dado a mão e de dizer: Pai acorda.” Quando o pai saiu do coma deparou-se com o pior. “Ele estava numa cadeira de rodas, com um lençol no peito e babava-se, porque a cara estava um bocadinho desfeita por ter um osso do rosto partido”, contou, sublinhando: “Sinto que, a partir desse dia, continuei a ser para ele o filho que sou, mas ele passou a ser um pai e um filho também. Hoje em dia, ainda é das pessoas com quem mais me preocupo”.
“Os meus pais discutiam muito. O meu pai bebia e era violento, não era violência física,mas verbal”, confidenciou ainda, recordando ainda um episódio que gostaria de nunca ter assistido. “Preferia que os meus pais estivessem separados do que assistir a brigas, a confrontos, a muita coisa. O meu pai tinha uma arma de caça, descarregada, e entrou no quarto com ciúmes e por causa da bebida. Foi assustador e não devia ter visto aquilo. Nessa noite não dormi.”
Divórcio e depressão
Emocionado, Fernando Daniel realçou que, apesar de tudo o que fazia, o pai gostava da mãe. “Por isso, aquilo foi um murro no estômago, porque ele, sóbrio, não conseguia compreender o que é que fazia quando não estava assim. Vi o meu pai a chorar várias vezes, a não dormir.” Os pais acabaram por ser divorciar quando o progenitor foi trabalhar nas obras para o Luxemburgo, enquanto a mãe, cozinheira de profissão, ficou em Portugal e apaixonou-se por outro homem. “Ela disse-me que ia ter com o meu pai e que me vinha buscar mais tarde. Tinha 12 anos na altura e isso nunca aconteceu. Fiquei sem falar com a minha mãe quase dois anos”, disse o artista a Daniel Oliveira e revelou que o tema “Recomeçar” é inspirado no progenitor. “Fala de ele nunca ultrapassar o divórcio e não avançar na vida. A minha mãe não esteve bem em trair o meu pai. Sempre que estou com a minha mãe, sinto o peso de ela ter deixado os filhos para trás.” Um ano após o divórcio dos pais, Fernando Daniel foi diagnosticado com uma depressão. “Fui a psicólogos, estive medicado durante seis meses”, disse. Mais tarde, enfrentou dificuldades nos relacionamentos amorosos. “Tinha tanto medo de ser traído, como o meu pai foi, que vivia desconfiado. Nunca tirei o melhor proveito e nunca fui a melhor pessoa que sei que hoje consigo ser para a Sara, a minha atual namorada, e futura mãe da minha filha.”
Em dezembro, Fernando Daniel estreia-se na paternidade e a menina e vai chamar-se Matilde. Promete ser um pai completamente diferente. “Se há coisa que sei que ela vai ter, em primeiro lugar, é um pai presente, que jamais tocará em bebida. Que, por mais que esteja chateado com a mãe, nunca nos vai ver discutir à sua frente. À minha filha nunca lhe vai faltar carinho”, garantiu.
Lembrou ainda os avós maternos, que considerou terem sido das pessoas mais importantes da sua vida, mas também um avô “emprestado”. “Há uma pessoa a quem vou estar sempre agradecido que é o meu avô Aníbal, que era o patrão da minha mãe. Ela não tinha dinheiro para me pôr numa creche e levava-me para casa deste senhor, onde ela trabalhava. Cresci a chamar-lhe avô e, desde então, acompanhou a minha vida toda. Era a pessoa com o coração mais bonito que já conheci. É o meu anjo-da-guarda”, confessou.