Três meses depois da tragédia Carina Rodrigues, 20 anos, esteve no “Dois às 10” para abrir o coração a Maria Botelho Moniz e Cláudio Ramos, a propósito da morte dos dois filhos gémeos que nasceram prematuros. De voz embargada, a irmã de Fanny começou por revelar que embora esta não fosse uma gravidez planeada, foi muito bem aceite quer pelo companheiro, Giovanni, quer pelas famílias de ambos.
Recordou, depois, que apesar de correr bem, a gestação “teve alguns altos e baixos”. “Logo no inicio estive uma semana deitada porque tive um sangramento”, disse lembrando que ainda no primeiro trimestre “houve um susto” quando numa ecografia se pôs a hipótese de um dos bebés ter Trissomia 21, o que não se viria a confirmar depois de feitos os despistes próprios da gravidez. Passados esses percalços, nada fazia prever o que se seguiu.
Grávida de seis meses, a irmã de Fanny deu à luz dois meninos, e despediu-se deles pouco depois. Enzell e Delman nasceram prematuros e, não resistiram.
“No inicio do mês de maio, fiz uma ecografia. Eu tinha muitas dores nas costas, muito inchaço nas pernas, mas como estava a começar o calor, achei que era retenção de líquidos”, contou lembrando que o exame mostrou que “Delman estava a fazer pressão no meu rim direito e que isso cria mais probabilidades para infeções urinárias”. Para evitar que evoluísse para esse cenário, foi dada medicação jovem contudo, “no dia 3 de maio foi detetada a tal bactéria no meu chichi que acabou por matar os meus filhos”, explicou lembrando que apesar de continuar a fazer a sua vida normal, era permanentemente incomodada por “dores que me faziam chorar. Uma pressão de lado, uma dor muito aguda” que, sabe agora já anteviam a infeção urinária que ditou o desfecho trágico.
Por indicação médica, Carina viu-se obrigada a ficar de baixa. “Na sexta-feira de manhã [dia 13 de maio], faço a minha vida normal, tomo o pequeno-almoço, as minhas vitaminas, senti-os a mexer, e quando me deito na sala, comecei a sentir uma pressão abaixo da barriga como uma dor de período. Sempre me explicaram que as contrações começam com essas dores de período”.
Sentindo que “algo não estava bem”, a jovem dirigiu-se às urgências, depois de ter tido aconselhamento via telefone, “com muita dificuldade”. “Fui deitada o caminho todo e à chegada só pedia que os salvassem, que eu já não importava”.
Em trabalho de parto, “com 9 dedos de dilatação”, Carina – que trabalha na área – percebeu desde logo que o pior podia acontecer. “Eu sabia que nascer com seis meses era muito cedo (…) eu berrei e disse não podia ser porque eles não iam aguentar. Eu sei que naquele momento vou perder os meus filhos”, recordou a cantora que contou sempre com o apoio do namorado e pai dos bebés, Giovanni.
Enzell foi o primeiro a nascer, nessa tarde de 13 de maio, com a certeza que o seu destino estava já traçado. “Eu começo a chorar, mas não é de tristeza, é de felicidade […] E quando o meu filho estica a mãozinha, eu falei para ele, cantei para ele. Eu só dizia que ele tinha de ir quando ele quisesse, que toda a gente o amava muito, mas que ele ia ter uma vida melhor lá em cima”, recordou, emocionada sobre o tempo que esteve com o menino. “Ele esteve comigo 18 minutos. Nasceu às seis e um e morreu às seis e dezanove. Ficou comigo até ao fim. Despedi-me dele, eu fiz tudo o que eu queria. Agora percebo que devia ter dado ordem mais cedo para adormecer o meu filho mas eu não queria que aquele momento acabasse. E quando nós ficamos só os três, nós não chorámos, ficamos a olhar para ele”, acrescentou.
E, apesar da dor de ter perdido um dos bebés, Carina continuou a lutar com todas as suas forças para salvar o outro. Para isso, teria de aguentar três semanas para que os pulmões do menino maturassem, mas tal não aconteceu e em pouco mais de 24 horas o seu corpo começou a fraquejar. “Ele estava bem. O pior era eu. A casa não estava segura, não estava firme. Eu escondi todas as minhas dores”, diz sobre o que se seguiu.
Por estar sem forças, os médicos optaram por adormece-la e Delman acabaria por nascer dia 15 de maio. “Quando acordei já tinha acontecido. Os 18 minutos que ele viveu foi com o pai, o mesmo tempo que o irmão”, partilhou revelando que só sentiu paz quando teve os dois bebés consigo: “colados ao meu peito”, disse.
Só depois de todo o procedimento é que a cantora decidiu comunicar à família o que tinha acontecido e os pais juntaram-se a ela na dor. “Quando eu vi o meu pai a chorar eu percebi: eles morreram, já não estão comigo. E aí é difícil, as questões vêm todas às cabeças”, terminou.
No final da conversa, a irmã de Fanny Rodrigues deixou um apelo: “Queria alertar que uma infeção urinária, não é só uma infeção urinária, não é o ir várias vezes à casa de banho… foi o que tirou os meus filhos”, rematou lembrando antes que mascarou o seu sofrimento na tentativa de proteger o segundo bebé. “Quando o médico me pergunta se eu estou bem eu respondo que sim. (…) Estou com 42 graus de febre, estou desidratada. (…) Senti-me culpada porque por causa de uma bactéria que eu não sei de onde veio o meu útero não estava a aguentar e isso é complicado sentir que uma parte de mim está a falhar”.
Depois de ter dado a entrevista, Carina agradeceu a “onda de amor” que recebeu através das redes sociais. Por seu turno, Fanny manifestou o seu apoio à irmã. “Orgulho em ti! Na Mulher que és”, escreveu.