
“De quem é a culpa? Sou eu? Porque a casa deles não estava segura o suficiente? E a casa deles sou eu...” Três meses depois da tragédia que se abateu sobre a sua vida, estas e outras questões continuam a assombrar Carina Rodrigues, que se encheu de força e quebrou o silêncio sobre a perda que sofreu. A irmã mais nova de Fanny Rodrigues estava grávida de gémeos e tinha acabado de entrar no sexto mês de gestação quando o seu mundo desabou.
Convidada do programa da TVI “Dois às 10”, a jovem, de 20 anos, abriu o seu coração e fez um relato emotivo de tudo o que viveu. Carina revelou que viveu uma gravidez com alguns sobressaltos. “Eu tinha muitas dores nas costas, muito inchaço nas pernas, mas, como estava a começar o calor, achei que era retenção de líquidos. Apercebemo-nos de que um dos bebés estava a fazer pressão no meu rim direito e que isso criava mais probabilidades para infeções urinárias. Logo aí comecei a tomar medicamentos para a infeção urinária, para prevenir.” Porém, o pior acabou por acontecer. “No dia 3 de maio foi detetada no meu chichi a bactéria que matou os meus filhos”, disse, já em lágrimas.
Dez dias depois, Carina começou a sentir um incómodo semelhante às dores menstruais e percebeu que algo não estava bem. Foi de imediato para o hospital, na Suíça, onde mora, com a madrinha – os pais estavam em Portugal para o aniversário do sobrinho, Diego, e o namorado, Giovanni Miranda, estava a trabalhar. Ao dar entrada, suplicou à equipa médica. “Esqueçam-se de mim, eu não existo. Eles é que são o futuro, eu já não sou nada”, recordou, emocionada. O cenário era realmente preocupante. “A médica que me estava a examinar não me conseguia olhar nos olhos. Disse que eu tinha nove dedos de dilatação, que estava em trabalho de parto e que o meu primeiro filho estava a nascer. Sabia que nascer com seis meses era muito cedo”, contou a irmã de Fanny. “Berrei e disse que não podia ser, porque eles não iam aguentar. Sei naquele momento que vou perder os meus filhos”, afirmou ainda.
Após a observação, os médicos informaram-na que haveria a possibilidade de salvarem um dos bebés. “Disseram que eu era a quarta pessoa a quem iam fazer esta técnica: numa conseguiram salvar o filho, a outra perdeu o bebé e na outra senhora o bebé nasceu com complicações. Tinha 15 minutos para tomar a decisão, se tiravam os dois ou se tentávamos salvar o segundo”, explicou. Ela disse logo que queria tentar salvar o filho. Seguiu para o bloco de partos e deu à luz o primeiro bebé, aquele que saberia que não sobreviveria. Enzell viveu 18 minutos ao lado da mãe e do pai. “Quando a enfermeira veio com o embrulhinho, chorei de felicidade. O meu filho esticou-me a mãozinha…”. A jovem aproveitou ao máximo cada segundo. “Cantei para ele e conversei com ele. Disse-lhe que podia ir quando ele quisesse. Vê-lo a tentar respirar e não conseguir foi o que me custou mais, estava a sofrer muito”, explicou. “Disse-lhe que ele ia ter uma vida excelente cá fora, mas com certeza ia ter uma melhor lá em cima”, partilhou, a chorar.
A jovem teria de aguentar a gestação do segundo gémeo por mais três semanas para que a sua sobrevivência fora do útero fosse viável. “Quando o médico me pergunta se eu estou bem, eu respondo que sim. O Giovanni aparece e percebe logo que não estou. Tenho 42 graus de febre, estou desidratada… Eu enervo-me, ele enerva-se porque eu não queria que ele dissesse a ninguém. Ele vai chamar a enfermeira e diz que eu estou a fingir e que estava com dores. Elas fazem as análises que têm a fazer e a seguir vem o médico. Percebi logo…”, adiantou. Comovida, relatou o seu sofrimento. “Disse: ‘Não vou, não quero’. Senti-me culpada porque por causa de uma bactéria que eu não sei de onde veio… O meu útero não estava a aguentar e isso é complicado, sentir que uma parte de mim estava a falhar. Estavam a pedir para eu matar o meu filho.” Já sem forças, foi-lhe dada uma anestesia geral e Delman nasceu. “Quando acordei já tinha acontecido. Os 18 minutos que ele viveu foi com o pai, o mesmo tempo que o irmão”, lembrou Carina, dando conta da sua dor: “A paz só a sentia quando os tinha comigo, colados ao meu peito”