O papel de parede com padrões de época, e os cortinados coloridos da sala dos Cardoso de “Depois do Adeus” parece que saíram diretamente do baú das nossas avós, mas ainda se comercializam. Pedro Soares e Rui Pina, responsáveis pela decoração da série histórica da RTP1, que reproduz a época do pós-25 de abril de 1974 asseguram que “há lojas de segunda mão que disponibilizam tecidos e peças antigas”. Há, aliás, uma tendência da decoração para usar este tipo de estilo (mas apenas algumas peças soltas e não a casa toda!). Por isso, reproduzir estes cenários foi relativamente fácil para a equipa de decoradores. “Já fazemos isto há alguns anos e temos contactos com antiquários e lojas de mobiliário em segunda mão em que alugamos muitas peças e compramos outras”, conta Rui Pina. Aliás, o decorador que trabalha sobretudo com publicidade é fã dos anos 70 e um fervoroso colecionador de adereços da época. “Os pratos, os copos, o gira-discos e outras peças são lá de casa”, comenta.
Também Pedro Soares emprestou algumas pormenores aos espaços da série. “O candeeiro da casa do Gonçalo [Tomás Alves] é meu!”, conta. De todos os espaços, os decoradores gostam de recordar o supermercado de Odete (Sandra Faleiro). “Encontrámos alguns produtos originais em antigas drogarias no Quintanilho, perto dos estúdios da série, em Vialonga”, explica, divertido, Rui Pina. “Nem queríamos acreditar quando vimos aquele material todo e era mesmo de 1970!”, afirma. Os donos das lojas já não comercializavam os sabões, detergentes e champôs mas ainda os tinham guardados. Para além destes produtos, a equipa teve de recriar algumas embalagens. “Fizemos muita pesquisa para descobrir como eram os rótulos de alguns produtos”, explica Rui Pina. O desenho foi depois reproduzido e impresso na reprografia da SP Televisão onde se gravou a série. A seguir, foram colados nas embalagens modernas. “É um trabalho que tem de ser feito com rigor”, asseguram. Aliás, o departamento gráfico da produtora foi o grande aliado dos decoradores. Os papéis de parede usados nas várias salas e os jornais da época expostos no quiosque do café de Artur (António Capelo) foram reproduzidos tal e qual os originais. Sendo que os jornais eram substituídos todos os dias de ação. “Fomos para a Hemeroteca Municipal de Lisboa procurar as primeiras páginas do ‘Diário de Lisboa’, de ‘A Bola’ e outros e imprimimos iguais”, lembram. Também os cartazes que a equipa de revolucionários – Gonçalo (Tomás Alves) Jorge (João Baptista) – colava nas paredes ou exibia nos quartos eram réplicas de originais publicados no livro “A Guerra dos Cartazes”, da editora Lembra Abril.
Com a série já terminada e a ser exibida no canal público aos domingos à noite, a equipa diz estar orgulhosa: “Foi bom estar envolvido num projeto como este”. As peças alugadas já foram entretanto entregues, outras foram guardadas e os cenários desmontados. “Mas é mesmo assim . É ficção…”, concluem.