
Tão cedo, Cláudia Pascoal e Isaura não esquecem a noite deste domingo, 4 de março, uma data que se eternizará nas suas memórias para sempre, ou não fosse esse o dia em que, juntas, venceram o “Festival da Canção RTP” com o tema “O Nosso Jardim”.
As duas não escondem o orgulho em fazer parte da nova geração de músicos e compositores presentes naquela competição, sempre num registo humilde que lhes permite reconhecer “que havia outras canções bonitas”.
Marcaram presença esta manhã, 5 de março, no programa “A Praça”, transmitido pelo canal de televisão público, onde revelaram as primeiras emoções vividas. Em conversa com Jorge Gabriel e Sónia Araújo, Isaura recordou que a sua música, que falava do reencontro após a perda, em homenagem à sua avó recentemente desaparecida, lhe permitiu duas estreias em simultâneo: compor em português (já que o seu repertório é essencialmente composto na língua inglesa) e para outra pessoa, visto que sempre interpretou as suas próprias canções. Admite a dificuldade que viveu em encontrar alguém à altura do desafio e confessa até que a sonoridade pretendida já pairava na sua cabeça, na certeza de que teria de delegar a tarefa. Chegou a desesperar perante a incerteza desse encontro, mas foi a prima de Isaura quem sugeriu Cláudia, que já tinha passado por várias competições musicais como “The Voice” e “Ídolos”, “obrigando-a” a escutar a voz da jovem cantora de Gondomar.

Na mesma entrevista confessam o peso da responsabilidade do legado de Luísa e Salvador Sobral, vencedores da edição anterior. Contudo, foi o exercício de desprendimento em relação ao tema de “Amar pelos dois” que garantiu a autenticidade que queriam impor ao tema, tornando-o numa “canção de que me orgulhe, de que gosto e que os meus netos um dia oiçam e gostem também”, disse Isaura.
Cláudia Pascoal, por sua vez, não esquece o dia em que Isaura a contactou. Inicialmente, o propósito foi o de interpretar um outro tema, intitulado de “Aonde estás”. Quando mostrou o tema de “O jardim”, não restaram dúvidas. Além das competências técnicas e artísticas, os traços pessoais de Cláudia ajudaram a decidir pois, segundo a compositora, o intérprete teria de ser alguém “gentil”.
A emoção foi imediata. “É muito fácil ouvirmos aquela música e sermos remetidos logo para aquele espaço, que é um bocado negativo mas, ao mesmo tempo, reconfortante”, confessa Cláudia.

Quando os nervos se apoderaram de Cláudia
Apesar da boa disposição que a caracteriza, Cláudia admite que ficou nervosa com a ideia de subir a palco para disputar a final do festival. Apercebendo-se do nervosismo da colega, Isaura admite que chegou a pensar que esta não iria subir a palco. “Ela vai desaparecer e eu vou lá ficar sentada num banco, de costas”, diz, entre risos.
Quando subiu a palco, Cláudia compreendeu com alegria que muitos portugueses presentes no Pavilhão Multiusos de Guimarães sabiam a letra da sua canção, um sentimento que a reconfortou. Não esconde que sempre seguiu atentamente o Festival da Canção RTP e que, para ela, a ideia de pisar aquele palco não era mais que um sonho. “Nunca pensei estar no Festival da Canção, quanto mais ganhá-lo”, afirma a vencedora, ideia que Isaura corroborou, garantido que o dia do Festival sempre foi “um dia especial”, diferente dos outros.
Quando pensa na oportunidade que teve, Isaura esquece a preocupação com a escolha dos vencedores. “Eu não estava ralada com o resultado. Acho que os cantores e compositores pegaram na ‘lição’ que trouxemos do ano passado e perceberam que a música em Portugal está de boa saúde e nós não queremos deixar ficar mal aquilo que foi construído. Toda a gente se esforçou, havia músicas belíssimas. Com as pontuações super renhidas, o resultado foi este mas podia ter sido outro”, afirmou elogiando, a título de exemplo, Catarina, a cantora de “Pra Sorrir Eu não Preciso de Nada”, cuja interpretação confessa tê-la arrepiado.
E vai mais longe ao afirmar que “as pessoas se esforçaram. Havia várias canções bonitas, vários potenciais representantes de Portugal na Eurovisão. Irmos nós é um orgulho gigante e fico contente por essa oportunidade”.
Contas feitas, a realização do festival permitiu, segundo o olhar da compositora, que os portugueses se interessassem por aquela competição e, entre os vários intérpretes e compositores, imperou o ambiente amistoso e de entreajuda. Para a história, lado a lado com a vitória colhida, perdura a homenagem a Simone de Oliveira, que comemorou recentemente o seu 80º aniversário.