A falta de meios e condições para realizar “Sexta às 9” não é de agora. Ainda antes da pandemia, já Sandra Felgueiras lamentava a falta de investimento no programa de investigação da RTP1 do qual era coordenadora. A jornalista decidiu demitir-se do formato e da estação pública, tendo apresentado o último programa a 26 de novembro, cujo tema foi as barreiras à liberdade de imprensa. “
O jornalismo nunca desiste e eu nunca desistirei de estar aqui e levar o jornalismo o melhor que sei e posso até si. Custe o que custar, doa a quem doer. Este é o último ‘Sexta às 9’, o único programa de investigação realizado todas as semanas ao longo de uma década na televisão portuguesa. É uma honra fazer parte da história da RTP nos últimos 22 anos e ter trabalhado ao lado dos melhores profissionais da televisão. Eu vou estar sempre algures por aqui”, disse na despedida.
O canal público decidiu antecipar o fim do programa e, desta forma, as reportagens em curso não deverão ser concluídas ou emitidas. Essa decisão e o “adeus” da coordenadora trouxeram à tona uma onda de críticas por parte da equipa de jornalistas, numa nota tornada pública. Humilhação, precariedade na profissão, falta de transparência na comunicação ou de recursos foram alguns temas abordados.
Tentámos falar com Sandra Felgueiras, que não esteve disponível. Porém, esta já havia anteriormente manifestado à nossa publicação o seu profundo desagrado. “Não há aposta em programas de investigação, não há condições para que o jornalismo de investigação se faça. Aqueles que entram agora para a profissão recebem miseravelmente. Nunca tive problemas em dizer isso, nem nunca terei. Acho inadmissível, nos tempos que correm, que existam recibos verdes. E na RTP continua a haver. E que se pague tão pouco a quem trabalha tanto com uma responsabilidade social tão intensa”, disse à TvMais este ano na cerimónia de entrega de prémios “As Mulheres Mais Influentes de Portugal 2020”, do site Executiva, onde (entre outras personalidades) foi uma das premiadas.
E questionou! “Porque é que os canais não investem neste jornalismo que é tão fundamental à garantia de escrutino para a boa democracia? O jornalismo tem de questionar quem está no poder, em primeira linha, porque é quem governa as nossas vidas, quem gere o nosso dinheiro.”
Fonte oficial da RTP assegurou-nos que o programa de 26 de novembro seria “o último apresentado por Sandra Felgueiras”, deixando no ar que a Direção de Informação estará a trabalhar num renovado formato de investigação. Entretanto, o semanário “Sol” avança que este poderá ser conduzido pela jornalista Cândida Pinto.