Roubou gargalhadas e envolveu-se em situações muito caricatas desde que se apresentou aos portugueses. Por isso, o seu adeus, motivado pela partida precoce de Maria João Abreu, será marcante… e surpreendente. Afinal, terá também um lado poético.
Tudo acontece quando, em casa, Sãozinha volta a acusar cansaço. E, depois de fazer um chá, acaba por deixar o lume ligado. Está ao telefone com uma amiga e vai mexendo numa moldura com uma fotografia dos três filhos. Começa a sentir um odor estranho no ar. “Que cheiro… Disto não é.Serão as ervas da madrinha?Esquece-se daquilo nos armários e apodrece tudo”, comenta, acabando por recostar-se no sofá e começa a cabacear de olhos fechados com a chávena na mão. Nesse instante, Salvador, que vem a passar na rua, sente um cheiro estranho no ar e acaba por bater à porta. Chama pela sogra e por Guida, mas não obtém resposta. Insiste ao sentir o cheiro cada vez mais intenso a gás e começa a procurar uma chave debaixo dos vasos e do tapete da porta, acabando por encontrá-la. Mal entra, repara em Sãozinha desmaiada. Vai desligar o fogão e aproxima-se dela. “Dona Sãozinha, acorde! Não me faça isto, vá lá… Acorde! Sou eu,o Salvador!”, suplica. Após muita insistência e manobras de reanimação, ela desperta. “Ai que sono, VirgemSantíssima…”, comenta. “Está viva!”, solta ele, quando entra Jacinta, que fica em choque ao ver o namorado tão próximo da mãe. “Deve ter havido uma fuga de gás, sentia-se o cheiro lá fora. Tentei bater, ver sealguém abria e acabei por entrar. A tuamãe estava desmaiada”, explica ele. A rapariga corre a ajudar a mãe e em seguida vai chamar Ivone.
Ao chegar ao local, a médica ausculta a amiga, que está nervosa. “Podes dizer, só tenho mais umas horas,não é?”, questiona. Jacinta manda a calar-se. “Assim não ouço. Respire fundo”, pede a filha de Elvira, enquanto a namorada de Salvador pergunta quem é que deixou o bico do fogão ligado. “Foi Deus Nosso Senhor para me abrir osolhos, que eu andava cega…”, atira. Entretanto, Guida entra em casa e fica em pânico ao ver a mãe a ser consultada. A irmã tranquiliza-a. “Ó filha, hoje vi a morte diante dos olhos.Nem sei como é que ainda estou aqui!”, solta a padeira. “Estás aqui por causa do Salvador. Elesalvou-te”, acrescenta Jacinta. A mãe ignora-a e suplica: “E o Tozé? Chamem o meu Tozépara me despedir dele. Só me falta veresse para poder partir descansada”. Ivone interrompe-as e entrega um oxímetro para irem monitorizando os níveis de Sãozinha, acrescentando que o pior já passou.
Na manhã seguinte, as duas irmãs estão a preparar-se para sair de casa quando percebem que a mãe já se foi embora. “Que estranho. Ela devia era ter ficado emcasa a descansar, o que lhe aconteceuontem foi grave”, comenta Jacinta. “Já devias saber… Não há susto que afaça mudar de feitio. A dona Sãozinhanão vai mudar nunca”, completa a namorada de Nicolau.
Horas depois, Jacinta, Salvador, Fausto e Vitória estão na padaria quando entra Hortense a perguntar pela irmã de Tozé. “Encontrei estasduas cartas no altar da senhora da BoaEstrela. Uma é dirigida a ti e aos teusirmãos e a outra é para o Salvador”, diz a cozinheira, acrescentando que foi Sãozinha quem as escreveu. A rapariga estranha e pega no documento. “Isto deve ser uma piada qualquer. Eaposto que é de mau gosto. Aquilo do gásdeu-lhe a volta à cabeça”, justifica, começando a ler a carta. Mas logo pára e pede ao namorado que o faça. “Meus queridos filhos do meucoração, ontem Deus mandou-me umrecado que não posso ignorar. A noite foireveladora e percebi que tenho de expiarestes pecados todos que trago comigo,todas as vezes que disse ou pensei malde alguém. Sonhei que o meu lugar é aoserviço do Nosso Senhor, de maneira quevou penitenciar-me com umvoto de silêncio e reclusão para oconvento da Ordem das Cândidas, longede Fraga Pequena, longe de tudo. Nãovão conseguir impedir-me de seguir aminha fé, por isso nem vale a pena tentar”, atira, calando-se e não contendo o choque. A mãe de Lena tira a carta e continua a ler, curiosa. “Está na altura de se orientaremsozinhos e seguirem o vosso caminho.Convenhamos, já todos têm idade para terjuízo”, finaliza. Todos ficam em silêncio e Jacinta diz que não é verdade: “Alguma vez a minha mãese ia enfiar num convento e ficar semfalar? Mas é sinal que o gás lhe fez mal àmioleira”.
Chega o momento de Salvador ler o seu documento, mas a namorada tira-lha. “Salvador, que não tens essenome por acaso, pois foi Deus NossoSenhor quem to deu, aceita o meu maissincero pedido de desculpas por todo omal que te fiz. Tu és um anjo. Obrigadapor me teres mostrado um caminho novo.E, por favor, cuida da minha Jacinta, seique ela não é fácil, mas tu tens fibra paraa aturar”, diz. Todos estão perplexos.
Enquanto isto, junto à casa da família, Rémi para a olhar. De repente, chega Tozé que lhe pergunta o que está ali a fazer. Os dois acabam a discutir e o emigrante segue o seu caminho. Mais tarde, os três irmãos reúnem-se em casa, ainda sem palavras. Não conseguem acreditar que a mãe foi para o convento. “Eu não acredito que isto nos está aacontecer outra vez. Primeiro desaparece-nos o pai… agora desaparece-nos amãe…”, diz o rapaz. “Ela não desapareceu, supostamente, foipara esse convento que está na carta.Não sei o quê das Cândidas”, solta a namorada de Salvador. Nisto chega Hortense, que informa que já telefonou para o convento e confirmou que Sãozinha está por lá. Guida logo sugere que deviam ir buscar a mãe, mas a madrinha impede-as: “Parou! Vocês não vão a lado nenhum.Respeitem a decisão da vossa mãe. Seela foi para um convento é porque sentiuo chamamento de Deus. Decidiu seguir um caminhodiferente, quem somos nós para interferir? A vossa mãe está bem, está entregue a Deus”, diz.