Sejamos claros: o desejo de ser pai é legítimo e cada um chega lá como quer. Não há matéria mais privada do que esta. A Cristiano Ronaldo só me resta desejar-lhe as mais sinceras felicidades na nova etapa da vida. Mas causa-me cada vez maior confusão como tudo na vida deste rapaz é feito através de comunicados, fotos e boatos. Que um ídolo deste calibre precisa de quem "lhe trate da imagem" é matéria pacífica, em linha com os novos tempos, dos "assessores" e agentes. Mas a verdade é que resta pouco mais, para não dizer nada. O Mundial foi o que se viu, Ronaldo arrastou-se pelos relvados, à procura de resolver tudo sozinho, a roubar a bola aos companheiros nos livres, e parecia estar sempre a trabalhar para o anúncio da Nike. Poder-se-á dizer que algumas outras grandes estrelas tiveram o mesmo fim na África do Sul, mas o peso de Cristiano é hoje maior. O mais caro, o melhor, o não-sei-quê, num vendaval de responsabilidade que parece tolhê-lo, em vez de o espicaçar a provar-nos que sim, que merece tudo isso e muito mais. Só que, como se previa, terminado o Mundial de forma inglória, logo vieram as manchetes com aquilo que parece realmente interessar: onde vai passar as férias milionárias, quantas raparigas estonteantes lhe cairão nos braços. O pobre futebol que tanto nos faz vibrar está hoje resumido a isto. Penteados, tendências, roupas, anúncios, alegadas conquistas amorosas que depois surgem a elogiar-lhe o tamanho da coisa e a prestação "em campo". Onde, obviamente e nem outra coisa seria de esperar, é o melhor do mundo. É uma pena os jogos não se ganharem com proezas sexuais. E agora, isto: um anúncio via internet, que deixa mais dúvidas do que explica. E parece que pouca gente se interroga sobre o método, ou o que ele implicou noutros casos. Com meia dúzia de patacos para o que traz no bolso, alugou ou comprou o seu grande desejo. Já o disse e repito: interessa-me pouco com quem dorme o rapaz, mas acho que dá para desconfiar de tanta miúda, de tão diferente proveniência. Quanto mais não seja, será difícil conciliar todas aquelas agendas. Mas os "agentes e assessores" estão convencidos de que esta é a forma de melhor nos "vender" Ronaldo, um garanhão lusitano com um corpo luzidio, que faz cair para o lado todas as miúdas do planeta. É uma mensagem pobrezinha, a de que podemos dormir descansados porque se não conseguimos ter sexo com aquelas miúdas todas, está lá o Cristiano para nos representar. Por mim, preferiria que marcasse golos e provasse todos os dias que é o melhor do mundo, mas não se pode ter tudo. Cristiano é um caso difícil. Tão depressa me comove, sem ironia, em alguns momentos de maravilhosa ingenuidade ou verticalidade, quando fala da família e das origens, com o orgulho sincero de um homem honrado, ou de amável entrega (aquela visita às crianças do IPO…). Mas há depois a outra face, quando me mostra que tudo em volta dele é de papelão, e vale o que valer um contrato publicitário. Ou o "marketing" que nos quer convencer de que o nosso menino é um garanhão imparável. Nunca, até hoje, nenhum grande jogador tinha sido mais publicitado pelos alegados lençóis do que pelo que fez em campo. É uma escolha dele, ou de quem o influencia. Daqui a uns anos veremos se valeu a pena.