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Na semana passada, choque e alívio. Numa questão de 48 horas, a Grécia pregava um susto à Europa e logo a seguir parecia dizer que tinha sido a brincar. Anunciado um referendo-surpresa que deixou o credo na boca aos demais parceiros da União, não tardou a pressão máxima que fez com que o primeiro-ministro Papandreou “reconsiderasse”: e assim morreu o referendo logo à nascença. E assim soprou uma ligeira brisa de optimismo. Curioso, e a prova de que estamos mesmo desesperados. As nossas expectativas andam a jogar-se entre o péssimo e o impensável. Bom, mas quando parecia que as novas vindas da Grécia nos dariam uma folga para respirar, eis que se anuncia um possível incêndio de Roma. Sim a Itália, a enorme e poderosa Itália treme também e começa a elevar-nos a preocupação para patamares já consideravelmente complicados. Eis que o papão da crise-bancarrota-precipício já não se conjuga apenas em Português, Grego ou Irlandês. E a péssima perspectiva é que se a mancha começa a mesmo a atingir países desta dimensão e complexidade (ainda que a Itália nunca tenha sido um modelo de organização e disciplina). Então o que poderá, afinal, evitar que todo o edifício europeu colapse? (bastando para isso serem beliscadas a França e a Alemanha). Este é o cenário, imparável: por cada problema que parece resolver-se, logo um maior se agiganta perante os nossos olhos. Não adianta, mesmo, tentar perceber o que se seguirá ou, sobretudo, onde é que tudo isto irá parar. Haja o que houver, mesmo com alguns alívios pelo meio, está visto que a sociedade caminha para a percepção final de que não há mais caminhos para o endividamento. A crise tem inúmeras faces e encruzilhadas, mas parece óbvio que se tornou insuportável a “pescadinha-de-rabo-na-boca” em que todos devem a todos, todos pediram emprestado e todos que emprestaram não querem emprestar mais ou querem mesmo o seu dinheiro de volta. O que a nova forma de vida trará, e não querendo acreditar que a Europa mergulhará nas trevas, é uma espécie de regresso (há quem lhe chame retrocesso) à mais básica equação matemática da Economia: se tem dinheiro, pode gastar; mas se não tem, deixe-se estar quieto. Foi assim que viveram os nossos avós e, em grande medida, os nossos pais. Prudentes, enquadrados no tempo, quantas vezes não ouviu alguém mais velho regozijar-se com o que chama a sua grande riqueza? Ou seja, não dever dinheiro. Nem a amigos nem a familiares e muito menos ao banco. No fundo, é este o significado do que hoje ainda dói como “austeridade”. Porque a palavra, a que fugimos porque nos corta as expectativas entretanto alcançadas, tem um sentido negativo, mas pode bem vir a ser a única salvação. Mais uma vez a equação é simples e pode e deve aplicar-se a questão da alternativa. De resto, uma óptima lição de vida que muitos deveriam aplicar quando balançam entre decisões. Você vai ao médico que lhe diz que deve deixar imediatamente de fumar. Se ainda hesita porque lhe sabe tão bem, pergunte qual é a alternativa. Talvez saber que será morrer dentro de dois anos o ajude a tomar um caminho. A austeridade, de que tanto ouvimos falar agora, e que mais não será do que termos cabeça nos gastos (a começar pelo Estado, óbvio, óbvio), poderá ser a única alternativa de futuro. Teremos menos coisas? Eventualmente, sim. Mas também pode estar na hora de nos perguntarmos se tudo o que obtemos, cheios de pressa, nos faz realmente falta. Ou realmente felizes. A única coisa que parece certa, nesta avalancha a que chamamos crise, é que teremos de sair daqui para outra forma de vida. Terá muitas coisas más, sem dúvida, mas temos de acreditar que somos bichos de sobrevivência. E que faz parte da nossa natureza não só adaptarmo-nos como começar a procurar o ângulo positivo do que nos acontece e nos muda a vida. Porque há sempre um ou mais. Vamos acreditar nisso. Quem sabe se não sairemos disto tudo mais fortes, mais sábios, mais resistentes? Quem sabe se os nossos filhos, ao viverem tudo isto connosco, não aprenderão muito mais depressa lições que passaríamos uma vida inteira a tentar explicar-lhes?