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Entre as atitudes que considero lamentáveis, há duas que ocupam lugar relevante, nos primeiros lugares do top. O populismo demagógico e vazio, e a falta de honra e de palavra. Quando eu menos esperava, o Governo conseguiu enfiar as duas na mesma medida. Seja ou não no tempo certo, estava anunciado um prémio de 500 euros para os melhores alunos do secundário. Uma forma simples, e barata, de premiar a excelência, atitude que tanto falta no País. Ora, a coberto da crise, que vai tendo costas cada vez mais largas, desvia-se a verba, para “projectos a alunos carenciados”, julgando-se assim, ao brandir pela milésima vez a causa dos desgraçadinhos, que a coisa fica explicada, certamente justificada, e, quem sabe, aplaudida. Não por mim, certamente. E, pelos vistos, nem por algumas figuras que não vão em violinos, como o Bastonário da Ordem dos Médicos, ou pelo menos um dos alunos a quem roubaram o prometido. Roubaram, palavra forte? Hmmm….deixa cá pensar….Não. Este aluno, a quem não conheço, de momento, rosto ou nome, toca na ferida nacional, quando explana a sua indignação. Pede ele que, já que lhe roubam as miseráveis cinco dezenas de euros, a que teria direito, recordemos, por ser excelente e se ter esforçado para isso, que se retirem também os chorudos prémios de milhões que gestores incompetentes atribuem a si próprios, em empresas que caminham a passos largos para falências ciclópicas, e que de ano para ano apresentam contas cada vez mais miseráveis, às suas ordens. Mas aí, certamente, não veremos mexidas, ou desvios politicamente correctos para obras de caridade. E o que indigna mais é a falta de noção, mesmo aritmética, que não sabe medir o pouco bem que faz com o grande mal que inflinge. Serão estes 500 euros a uns tantos alunos que podem significar o melhor que o País há-de ter que resolvem a crise, senhores? Quando somos inundados, todos os dias, com notícias de dívidas e buracos de milhares de milhões, e vemos e ouvimos os responsáveis rirem-se na nossa cara, serão estas centenas de euros “poupadas” ou desviadas que virão impedir bancarrotas? Além do aluno, ouvi, e bem, o Bastonário dos Médicos afirmar que substituirá o Estado, e lavará com dinheiro de mecenas ou médicos este ponto de honra manchado à primeira oportunidade. E explica, como se preciso fosse, que é uma vergonha prometer pequenas coisas que não se cumprem, e que não é pequena coisa atribuir um incentivo, pouco mais que simbólico, a jovens que se esforçaram para atingir a excelência, que deveria ser um desígnio nacional, num país dirigido há demasiado tempo por medíocres compadrios. Que sinal deu o Governo, ou o Estado, ou quem quer que represente aqueles que mandam no nosso destino? Primeiro, que não é pessoa de bem. Segundo, que a crise terá muitos defeitos, mas tem também a virtude de servir, agora e nos tempos mais próximos, de desculpa para tudo. É uma tristeza sem fim. Não que este exemplo seja de uma gravidade extrema, mas porque é a imagem, o símbolo de como funcionamos. E não tardará muito que os miúdos, o futuro deste país, percebam que lhes acenam sempre com palavras vãs, e que não lhes bastará serem excelentes e trabalhadores e honestos; talvez lhes valha mais terem um cartão partidário. Ou conhecerem alguém no sítio certo de influência. Depois admirem-se com a debandada de talentos, com a fuga de promissores profissionais. E não, não me esqueci dos “projectos para alunos carenciados” para quem, alegadamente forma desviados estes miseráveis 500 euros. Respeito muito esses projectos, são de primordial importância, mas, como o caso aqui descrito…será bom que existam mesmo, e se cumpram. Não faltaram nunca neste país outras promessas e projectos e planos e princípios, todos muito bonzinhos e moralizadores, que fazem notícia em certo dia escolhido cirurgicamente para os governos fazerem propaganda, e se perdem depois na poeira do tempo que passa. E mais: a ajuda (necessária, bem-intencionada, sem dúvida) não deveria sair de outros cofres que não cuspissem na cara dos melhores alunos do País?