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As primeiras notícias não são de agora, mas confesso que só muito recentemente dei pelo assunto, e confesso, ainda mais, que estou de tal forma estupefacto que só agora resolvi escrever sobre o assunto. Trata-se de um site da Internet, Second Love. O nome, se estivermos atentos, diz tudo. Sites de simples pornografia, de procura de parceiros, de engates, haverá milhões. A novidade, desta vez, é que se trata de um site específico para os adeptos da “facadinha” na relação. Ou seja, parte-se do princípio que os homens e mulheres que ali vão serão “comprometidos”, sejam ou não casados, e que procuram uma ou várias “aventuras ocasionais”. Ora bem, vamos por partes: traições há desde o princípio do mundo, certamente, e continuará a haver até ao fim dos dias, enquanto houver casais. O que me parece bizarro, para o caso, é que alguém tenha tido a ideia (e bem sucedida, pelo que se vê) de profissionalizar a coisa, atribuindo-lhe um cantinho particular no infindável mundo da Internet. Bem sucedida, sem dúvida. Vejamos: a ideia importada da Holanda lançou amarras portuguesas em Abril, e em pouco mais de 3 meses tinha mais de 35 mil inscritos. Diz ainda a orgulhosa organização de infidelidades que os seus “sócios” são, na maioria, de formação superior, com idades entre os 35 e os 50 anos. A generalizar, fiando-nos apenas nas probabilidades, trata-se de gente particularmente informada e intelectualmente preparada, no auge da sua maturidade. Já irei às duas ou três perguntas que apetece colocar aos adeptos do fenómeno, mas adianto mais duas espantosas jactâncias que acompanham as notícias que foram feitas sobre o assunto. A primeira, sem dúvida, vem da mente dos meus colegas jornalistas que primeiro apresentaram as notícias (sempre com sorrisinho maroto a acompanhar, como convém). A coisa foi introduzida assim: chegou um novo site para aqueles que procuram sexo extra-conjugal, sem colocar em causa o seu relacionamento…Sim, leu bem. O que se entende, desta extraordinária maneira de colocar a questão, é que este site permite umas facadas que, digamos assim, doem menos que as outras?… Não, ó gente. O princípio da coisa é exactamente o mesmo. Não coloca em causa o seu relacionamento…ATÉ O SEU MARIDO OU MULHER DESCOBRIR, NÃO? Há, depois, aquelas maravilhosas teorias teórico-terapêuticas sobre a matéria. Não falta, naturalmente, quem defenda que, no fundo, no fundo, a facadinha até é positiva porque vai “apimentar” a relação original. Seria bom acrescentar que quem pensa ou diz isto será sempre quem dá a facada, e não quem a recebe. Mas os jornalistas que escrevem a notícia sobre a coisa não conseguem discorrer sozinhos, recorrendo à tradicional “caução” dos “especialistas”. E lá vem Marta Crawford elucidar-nos, do alto do seu doutoramento na matéria: a infidelidade só é gratificante para quem a pratica. A sério?! E eu que pensava que os enganados, os ingénuos cornos, eram pessoas realizadas e felizes por saberem que o parceiro anda por aí enrolado com quem aparece na rede… Não me digam que são afinal desmancha-prazeres que vão ficar humilhados e magoados… Longe de mim apregoar rédeas morais sobre o mundo de adultos que agem com consentimento. Que cada um faça o que quiser, com quem quiser (embora convenha que não se cometam crimes, já agora)… A minha pergunta não nasce da moral, mas da emocionalidade prática: se é para andar por aí, fervilhantes, sedentos, a babar-se por aventuras, a corar de antecipação e expectativa, por este, aquele, aquela, e mais outro e outra…por que vos casais afinal, minha gente? Quem vos obriga, em pleno século XXI, o século das últimas amarras quebradas, a prosseguir convenções sociais que considerais tão ultrapassadas, tão castradoras? E que tal, digo eu, viver de acordo com o que realmente se quer? Dizer, olhos nos olhos: quero múltiplos parceiros, não te quero só a ti. Bem sei que poderia abanar o negócio dos fotógrafos de boda e dos organizadores de copo d’água. Mas talvez fizesse maravilhas por tanta e tanta gente, que eterniza vidas partilhadas com a mentira, em vez de se descobrir, livre, numa busca de prazer que não magoe ninguém.
Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico