1 A sermos justos, não faz mal nenhum que alguém se interrogue a sério sobre a actuação do Governo. Nomeadamente, se será caminho único obedecer às leoninas exigências das troikas e credores, “porque sim”, “porque não resta outra alternativa”. Aliás, não deixa de ser curioso que um Governo que nos traz as piores notícias das últimas décadas goze de uma empatia de infortúnio dos compatriotas. Passos Coelho tem conseguido passar a mensagem que nos convence: tem de ser assim, sob risco de ser muito pior. Acredito, que remédio. Mas aceito que alguém não acredite. Ainda que essa descrença seja feita ao abrigo da eterna luta partidária PSD-PS (se eles acham que sim, nós achamos que não, se eles defendem preto, nós preferimos branco). Mas ainda assim, até pode haver alguma base defensável para o discurso inflamado do vice–presidente da bancada socialista num jantar de Natal em Castelo de Paiva. O que já me parece caricato é que um partido não consiga falar a uma só voz em momento tão delicado, e que seja tão inábil a defender ou a justificar explosivas considerações. O que o vice-presidente da bancada disse, o próprio líder da bancada vem depois defender. E explicar. Mas é aqui que tudo perde força, quando Zorrinho nos diz que o que foi dito “foi apenas uma metáfora”. Pausa para pensar: seria bom que nos gabinetes socialistas existissem dicionários. Porque o que foi dito foi o contrário de metáfora, o contrário de simbólico, o oposto de imagem que pretende passar um significado. O que há de metafórico em “estou-me marimbando para os mercados”? Ou em “as pernas dos banqueiros alemães até tremem”? Ou, sobretudo, em “não pagamos” e pronto? Está dito, está dito. E é claro como água. Aos restantes responsáveis do PS restam duas alternativas: ou assinam por baixo, ou discordam do colega, e pedem que aquilo não seja entendida como a posição do partido. As meias-tintas do “não me revejo no tom, mas não deixa de ter uma certa razão…” são a mais medíocre manobra política de jogar com duas faces. Sabendo que lhe fica mal a irresponsabilidade de trocar as voltas ao Governo a quem se aliou, sob o pretexto do desígnio nacional, será que o PS anda a incumbir segundas figuras de fazerem pelo País fora o discurso que realmente lhes vai na alma? Como português que um dia destes será novamente chamado a votar, gostaria de saber, de uma vez por todas, o que posso esperar do partido.
2 Esgotou-se-me a paciência para a namorada do Ronaldo. Nem tanto para ela, mas para os meus compatriotas dos jornais, revistas e TV que me inundam com as suas fotos, as suas poses, e a piscadela de olho. Irina despe-se por isto, despe-se por aquilo, e todos devemos, como portugueses, ficar muito orgulhosos porque o nosso rapaz namora uma “gaja boa”. Todo o texto que acompanha as “produções” da menina está cheio de risinhos marotos, recheado de “despida de preconceitos”, pleno de saliva. Aqui, sim, reino puro da metáfora. O que nos querem dizer é que a menina do nosso menino tem um óptimo par de pernas, um rabiosque encantador, uns seios de fazer parar o trânsito. Não é mais do que isto, embora nos façam ler outras coisas. E a ideia não é senão sentirmo-nos um nadinha donos daquilo também, já que temos a mesma nacionalidade do craque. E, quiçá, ajudarmos a mamã do Cristiano a “aceitar” a desenvoltura da “futura nora”. Sim, porque a cada foto ousada somos informados que a dona Dolores não encara muito bem estas modernices. Mas também ela, que diabo, há-de render-se. E partilhar connosco esse imenso orgulho que é sabermos que as fotos da nossa menina serão as preferidas, por esse mundo fora, das paredes de oficinas de automóveis.
3 Espero, ainda, que o Menino Jesus coloque no sapatinho de Alexandra Lencastre um sujeito tão bom, tão fixe, tão musculado, tão inteligente, tão perfeito, que nos acabe de vez com os pedidos suplicantes da actriz à imprensa. Estou aqui a torcer para que este amigo especial que lhe apareceu ao caminho, de que me falam agora a toda a hora, dê certo. Para que não tenhamos de sofrer mais com a sua “solidão” amorosa, e não tenhamos de ler mais páginas e páginas do seu coração “livre para o amor”. Só falta mesmo o número de telefone.
4 E por falar em Menino Jesus: um óptimo Natal para todos os leitores da tvmais.