os descendentes

Não é triste, nem mau, ou negativo, apenas curioso, quando algo tem tudo para resultar…e não resulta. Depois de muitas semanas sem ir ao cinema, lá comprei bilhete para os Descendentes, que já valeu a George Clooney o Globo de Ouro para melhor actor, e o mantém entre os favoritos para os Oscares que se aproximam. O filme é assinado, na realização e argumento, por Alexander Payne, que no início da última década nos trouxe dois dramas de desigual impacto: Sideways e About Schmidt, este último com um soberbo Jack Nicholson a assumir por inteiro a idade, num papel que lhe pede isso, com uma sobriedade e uma ternura dignas de realce. Sideways, sobre um conhecedor de vinhos que empreende uma extraordinária viagem pelos vinhedos da California (onde acaba por se encontrar), já me tinha deixado excelente impressão. Procuro (e cada vez mais) no cinema e na literatura histórias e personagens de gente, de gente igual a nós, gente com quem me possa identificar, de quem possa gostar. Que possa detestar. Estou muito farto de argumentos complicados, a armar ao esperto, e sobretudo de teias de efeitos especiais ou histórias que exibem muita forma e pouco conteúdo. Portanto, sabendo eu o que sabia do realizador, vamos embora ver isto. Acresce dois outros pontos que me agudizaram ainda mais o desejo. Do pouco que sabia sobre o argumento, sabia que ia encontrar um homem mais ou menos da minha idade, com uma mulher subitamente às portas da morte, e duas filhas adolescentes com quem vai ter de se haver sozinho dali em diante. É matéria suficiente para elaborar cenas e diálogos de luta interior, a única que realmente me interessa na arte. E, ainda por cima, George Clooney. Um homem que me habituei a admirar, e que transformou o que poderia ser um patético destino simplista de menino bonito numa carreira de projectos sólidos (como Brad Pitt,aliás), sendo que Clooney se aventurou algumas vezes na realização, com resultados muito prometedores. O filme tem, pois, tudo isto à minha disposição, tem-me já suficientemente inclinado para gostar. Mas não. E no entanto , na lógica mais linear do filme narrado pela principal personagem, começa bem, mas parece incapaz de levantar voo, arrastando-se até ao fim na horizontal, como um bocejo de um telefilme de domingo. As questões de gosto, de que é feita toda a arte, não têm grande discussão, como refere o tradicional provérbio. Mas há também, e cada vez mais, com a idade, uma capacidade em nós de cada vez menos nos sentirmos obrigados a embarcar em carneiradas. Não só não gostarei dos Descendentes porque toda a gente gosta, como sou cada vez mais rigoroso com as minhas próprias carneiradas interiores: como gosto do realizador e do actor e do tema, nada faria prever que não gostasse afinal do filme. Mas aconteceu. E é refrescante, garanto. Porque gosto da sensação de que cada vez mais embarco numa nova experiência com o contador a zeros. E não se trata de estar mais “rigoroso”, seja lá isso o que for. Estou também, tenho notado, cada vez mais aberto e condescendente para com aquilo que não conheço. É sinal de eterna adolescência teimosa, sei-o agora, torcer o nariz ou desdenhar de algo que, pura e simplesmente…não conheço. Criamos grelhas demasiado rígidas para nós, porque achamos que se joga aí muito do que os outros pensarão de nós. E passamos metade da vida, ou mais (seja como for, demasiado tempo) a tentarmos corresponder ao que os outros esperam de nós: aqueles com quem nos damos na altura, aqueles que queremos impressionar, os que julgamos conquistar. Por mim, chega. Há muito tempo. Tendo já, certamente, ultrapassado metade da vida que me coube viver, gostarei do que gostar, quando me apetecer, sem perder um segundo a pensar o que isso “significa” aos olhos dos outros. Poderá este achar-me piroso? O outro considerar-me fascista? E aquela? Quando souber que gosto disto e não daquilo, dar-me-á sentença de homofóbico? Ou racista? Ou parado no tempo? Convencido? É tanto para pensar, tanto para me preocupar, este jogo das impressões e dos conceitos, que já não interessa. Já não me interessa. Já não tenho tempo. Já só tenho tempo para ir à procura, incessantemente, do que gosto. E quero lá saber, perdoem-me a franqueza, o que acham os outros do que gosto ou deixo de gostar.   

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