Assim que o remate de Cesc Fábregas bateu no poste e se anichou na baliza defendida por Rui Patrício, os rostos que me ladeavam e que no último mês foram de entusiasmo fecharam-se num estado letárgico. Também neste jogo fiquei na mesma zona que as famílias dos jogadores nacionais e vi lágrimas incontidas consoladas por quem estava mais perto. Lá em baixo, no relvado, os jogadores reconfortavam-se e agradeciam ao público português ali presente e ao que sofreu em Portugal e por esse mundo fora. Para nós, era altura de fazer as malas, mas antes disso ainda teríamos de enfrentar mais um voo de três horas (entre Donetsk e Poznan), feito na madrugada pós-jogo, depois mais uma viagem de 45 minutos até Opalenica, e descansar não mais de quatro horas. Por volta das 11 h locais, vasculhámos todos os quartos à procura de uma peça de roupa perdida e fizemos contorcionismo a tentar fechar malas que rolarão em Portugal mais cheias do que de lá saíram. Seguiram-se mais 45 minutos de percurso de novo para o aeroporto, com as devidas formalidades de embarque e a entrada pela porta traseira no avião que nos transportaria até Lisboa. Simultaneamente, os jogadores e a comitiva portuguesa foram entrando pela porta dianteira, não sem antes acenar, num gesto que confirmou a atitude tranquila, elevada e adulta que senti em todos eles, após a eliminação nas meias-finais do Campeonato da Europa. Saímos de cabeça erguida, mais unidos do que há um mês e com uma estrada longa para fazer em conjunto.
Dentro do avião, reinou a boa disposição entre os elementos da comunicação social, recordaram-se os episódios mais caricatos, a tripulação distribuiu pastéis de nata e champanhe e na reta final do percurso o relator da TSF, João Ricardo Pateiro, conhecido por adaptar canções a cada jogador, teve autorização para falar pelo intercomunicador geral do avião. Gravado e fotografado por todos, João agradeceu à comitiva nacional a prestação no Euro 2012 e cantou: “O Rui Patrício é bom, é bom é, vai lá com a mão, vai lá com o pé” (para ser cantado com a melodia do Boca Doce), também adaptou a música do anúncio do Mokambo para Raul Meireles, entre muitas outras. No final, relatou o sonho de um golo de vitória na final do Europeu. Todos aplaudiram e Paulo Bento dirigiu-se à zona onde estávamos para cumprimentá-lo. Ambiente saudável e profícuo que vai dar frutos num futuro não muito distante. Aterrámos e comentei com o Bruno e com o David, perante as pessoas que os esperavam: imaginem quando ganharmos!