Não tenho Facebook ou Twitter, ou qualquer uma dessas fascinações da dita nova comunicação. Tardei, por isso, a perceber que a forma como apresentei uma peça sobre Miley Cyrus no “Jornal da Noite” tinha tido inesperada repercussão e comentários na internet. A maioria ria-se e piscava-me o olho, em aprovação. Mas havia alguns descontentes. Destes, houve um grupo de fãs da rapariga que escreveu mesmo para a SIC, manifestando o seu repúdio. E é pois a elas e eles, autodenominados fãs de Miley Cyrus, que me dirijo.
A grande curiosidade da mensagem é a assinatura. Criticam com veemência o que eu disse (já lá vamos) e terminam dizendo que o fazem em nome dos fãs portugueses e DA PRÓPRIA MILEY CYRUS. Sim. Devemos, portanto, acreditar que Miley Cyrus vê o “Jornal da Noite” com toda a atenção (o que agradeço). Ou, então, os fãs fizeram-lhe chegar a gravação e ela pediu-lhes, de imediato, que me fizessem chegar o seu protesto. Só pode ser, creio, uma destas duas hipóteses. Há uma terceira, claro. Que seria a mensagem ser assinada por teenagers que têm o hábito de inventar coisas, e que isso se reflectiria no e-mail que enviam para uma televisão. Mas como continuo crente na rectidão da juventude, vamos mesmo acreditar que Miley ficou muito zangada comigo, e mandou dizê-lo pelos fãs.
Aqui chegados, começo por lembrar o que disse. Que decorreram os prémios MTV, que venceu este e aquele, e que Miley conquistou o prémio de Melhor Vídeo. Acrescentei depois que, se houvesse um prémio para quem quer dar nas vistas, já não sabe mais o que inventar e por isso pediu a uma anã para lhe dar umas palmadas, esse prémio iria também para a cantora. Ao meu lado, uma ilustração gigante que mostrava… uma anã a dar palmadas no rabo de Miley Cyrus, imagem parada que depois a reportagem mostrava em todo o seu esplendor e… verdade.
Ora, não querendo eu acreditar que os fãs se possam ofender por eu falar de um facto visível (e palpável até), aposto que não terão gostado de “não saber mais o que inventar” ou “gosta de dar nas vistas”. Explico: parece-me que há ainda muitas alternativas (mesmo no imenso universo da palermice) antes de se chegar às palmadas dadas por uma anã, daí me parecer que chegar tão depressa a esse clímax é não saber que poderia ainda inventar outras coisas pelo caminho. E quanto a gostar de dar nas vistas, quer-me também parecer, sem necessidade de deduções à Einstein, que alguém que escolhe fazer uma cena daquelas, depois de muitas outras que já fez, não tenha como finalidade passar despercebida, que, como alguns de nós sabem (nem todos), é o contrário de dar nas vistas, como explicam os bons dicionários.
Explicado que há muito mais de facto do que de outra coisa no que eu disse, vamos ao essencial, caros fãs. A maioria de vós será certamente muito jovem, e a maioria da maioria deverá ter crescido com Hannah Montana. Há, pois, entre vós e Miley, aquela cumplicidade de geração. Percebo isso perfeitamente. Entre os fãs contam-se também algumas mães e pais, pelo que vejo à entrada para concertos, o que também é natural, porque muitos adultos acham que gostar do que os jovens gostam os faz sentir também jovens e, muito importante, pensam que assim são cúmplices simpáticos dos filhos. Mas uma coisa é achar que Miley não é uma pateta descontrolada exibicionista mas, sim, uma rebelde gira, outra é querer que o mundo inteiro tenha a mesma opinião. E não sei também como explicar-vos que é daquelas matérias na vida em que ninguém tem culpa e ninguém tem razão. Mas eu aconselharia a relaxar. Porque enfurecerem-se de cada vez que alguém tiver um gosto diferente do vosso será vida muito cansativa.