Ana, escrevo estas linhas sentado no banco do Largo Camões, as 22.30 h de uma sexta-feira. Acabei de sair do Teatro Estúdio Mário Viegas e de assistir ao teu maravilhoso espectáculo. Não está cheio de efeitos especiais, não tem grandes cortinas, uma enorme escadaria, mas está recheado de coisas boas que me encheram a alma. Eu, que trabalho no meio, percebi todas as letras do teu texto, o destinatário dele e o objetivo que te leva a dizê-lo com tanto coração e a transbordar de talento. Não somos amigos, já nos cruzámos mil vezes e mil vezes te devo ter dito quanto gostava de ti, mais umas coisas que outras, como em tudo na vida, mas ver este “Sem Filtro” é ter a certeza de que Portugal, de vez em quando, se esquece dos seus, dos melhores, daqueles que já lhe deram tanto, e perceber que, a qualquer momento, qualquer um de nós pode estar naquele casting… Bonito e emocionante foi ver-te falar dos teus pais, do teu pai, sabendo que partiu recentemente. Que bonita homenagem feita sem ser programada. Coisas do destino, vida esta de artista em que, mesmo com o coração apertado e a língua a querer prender-se dentro da boca, é preciso entrar em cena, fazer o espectáculo continuar, roubar sorrisos, gargalhadas e receber aplausos. Como dizes e bem, não há outro remédio, é em frente que se segue, porque há IRS, IRC, IMI, Segurança Social, água, luz, telefone… Gostei. Pronto, tudo isto, Ana, para te dizer que gostei de te ver em cena, soube-me a pouco, quero voltar a ver-te no mesmo espectáculo, que, é preciso que se diga, está atual, é atual a cada dia. E real, muitíssimo real. Obrigado, Bola!