Quem não se lembra da imagem de uma mulher a matar a sede de uma criança subnutrida que deambulava pelas ruas da Nigéria? A fotografia, publicada nas redes sociais em janeiro de 2016, correu mundo. A benfeitora, Anja Lovén, foi nomeada uma das pessoas mais influentes desse ano e o menino, Hope, fintou um destino que se adivinhava cruel depois de ter sido abandonado pela própria família – que o dizia “bruxo”. “Antes de Hope, já havíamos salvado mais de 50 crianças que também estavam em péssimas condições, por isso, estávamos bem preparados. Os pais dele não estavam na aldeia, deixaram-no na rua e os moradores alegaram que ele era um feiticeiro. Quando peguei nele, não pesava mais de três quilos e cheirava a morte. Não achei que sobrevivesse”, recordou Anja à BBC em janeiro de 2020, por ocasião dos quatro anos do salvamento.
Hoje, cinco anos volvidos, a criança é a imagem de superação e esperança (como, aliás, o nome com o qual foi batizado pela mulher que o salvou indica). Perfeitamente integrado na Fundação para a Educação e Desenvolvimento das Crianças Africanas, na Nigéria, que pertence à organização Land of Hope, criada pela dinamarquesa e pelo marido, David Umem, “ele é um sobrevivente; um rapaz forte e saudável que gosta de ir à escola e brincar com os amigos”.
Mais do que esperança
Nos dedos da mão esquerda, Anja tem tatuadas as quatro letras da palavra “HOPE” (“Esperança”, em português), cujo significado tem vindo a ganhar outra dimensão além da da sua associação. “Esta passou a ser a minha missão de vida: Help One Person Everyday [ajudar uma pessoa todos os dias,]”, escreveu recentemente, lembrando o momento em que se cruzou com o menino nigeriano.
76 “irmãos”
Anja e David encontraram o menino nigeriano dois anos depois de terem sido pais de David Jr., a quem, durante a gravidez, ainda pensaram chamar Hope. Quando viram pela primeira vez o seu filho a brincar com o menino encontrado nas ruas, não tiveram dúvidas de que seria este a ganhar esse nome. “Foram os melhores amigos desde o primeiro instante”, contou Anja à BBC, sublinhando o lado altruísta do filho: “Quando lhe pedem que desenhe a família, David Jr. representa-se sempre junto do pai, da mãe, dos três cães e do número 76, que representam as crianças que estão na organização”.