A minha filha tem 2 anos. Como será que vai reagir às máscaras e ao distanciamento na creche? Marília Pinto, Estoril
As crianças precisam de sentir controlo e confiança na atitude dos adultos que as querem proteger, que são capazes de criar condições para que se sintam seguras e que não aconteça nenhuma desgraça se, no meio da brincadeira, derem as mãos ou até um beijo ou um abraço a um amigo. Não podemos estar à espera que crianças desta idade andem de máscara, se distanciem cerca de 2 metros dos colegas, respeitem as marcas de sinalização vincadas no chão, ou lavem as mãos antes e depois de tocarem numa superfície. Perante o impedimento de uma ação que era tida como habitual para a criança, por exemplo, gatinhar entre diferentes espaços ou pegar aleatoriamente nos brinquedos e objetos, poderá reagir com choro, birra ou reação agressiva. No entanto, as crianças manifestam um elevado potencial de adaptação, apoiam-se entre elas e irão revelar capacidade de se ajustar dentro das novas dinâmicas planeadas pelos educadores e auxiliares. É normal que manifestem níveis mais elevados de stresse, agitação, irritabilidade e instabilidade no sono e na alimentação, sobretudo depois de um longo período de confinamento, junto das principais figuras de vinculação. As crianças da creche não percebem o porquê de não se poderem abraçar e tocar ou pedir colo e mimos e nem devem ser ensinadas a proceder de forma oposta àquela que é genuína da natureza humana. Se vamos ter de viver com o vírus durante muito tempo, então mais do que pensar em não o contrair, precisamos de pensar em não o deixar destruir a nossa saúde mental, sobretudo a daqueles que não se sabem defender.