Na noite da última segunda-feira, 1 de agosto, Judite Sousa revelou nas redes sociais que denunciou o contrato de prestação de serviços com a CNN Portugal há um mês e meio. Agora, a jornalista vem a público confirmar informações polémicas divulgadas na imprensa sobre a sua saída da estação – e desmente as palavras de Nuno Santos sobre o seu contrato de trabalho, o seguro de saúde na cobertura da Guerra da Ucrânia, os meios financeiros na mesma viagem e as suas funções dentro da redação da CNN Portugal.
“Em primeiro lugar, quero deixar uma palavra de estima ao empresário Mário Ferreira. Encontrámo-nos uma vez e foi de uma simpatia inexcedível. Em segundo lugar, quero agradecer ao Nuno Santos por me ter “ tirado” do sofá e me ter escolhido, sem que eu o pedisse, para abrir as emissões da CNN Portugal. Em terceiro lugar, quero dizer que o meu contrato de trabalho acabou mais cedo por minha e exclusiva iniciativa. Porquê? Porque entendí que quero tentar ser feliz e que para isso tinha que sair do espaço público. Foi uma decisão de VIDA”, começou por escrever Judite.
Depois, a jornalista passa a desmentir as palavras de Nuno Santos, o diretor da CNN Portugal, que na manhã desta terça-feira, 2 de agosto, esteve em direto na TVI a afirmar que as informações sobre a saída da pivô divulgadas na imprensa não eram verdade. “Não podemos deixar que no espaço público se digam inverdades, mentiras, sobre aquilo que está a acontecer“, disse Nuno Santos. O diretor da CNN Potugal referia-se ao que disse o apresentador da CMTV Duarte Siopa, no programa da manhã da estação. Siope afirmou que Judite trabalhou por meses sem contrato de trabalho, viajou para a cobertura da Guerra da Ucrânia sem seguro de saúde e sofria bullying na redação da estação de televisão por não ser reconhecida no seu papel de coordenadora e editora.
5 meses a trabalhar sem contrato
Judite Sousa confirma que realmente esteve a trabalhar por meses sem contrato. A CNN Portugal estreou a 22 de novembro, e segundo a jornalista, o seu contrato só foi assinado na primeira semana de maio, o que significa que Judite terá trabalhado mais de 5 meses sem contrato formalizado.
A jornalista vai além e diz que não foi paga pelo período em que esteve a trabalhar sem contrato, confirmando que não tinha as suas funções de coordenadora e editora reconhecidas pelos colegas dentro da redação. No Instagram, Judite afirma:“quero dizer que o meu contrato – recibos verdes – foi assinado pela empresa (direção de recursos humanos e direção financeira) na primeira semana de Maio. Gostaria ainda de dizer que não existindo contrato assinado, também não existiu remuneração. E porquê? Porque como as minhas funções editoriais não eram assumidas perante o grupo de trabalho, entendi que não assinaria o referido contrato de trabalho”.
Sobre a remuneração, a TVI emitiu um comunicado informando que Judite não apresentou faturas e, por este motivo, não recebeu. Entretanto, garante que não deve nenhum pagamento à jornalista: “No cumprimento dos procedimentos internos, que se aplicam a todos os colaboradores da empresa, o pagamento por prestação de serviços acontece mediante apresentação de fatura. Judite Sousa esteve, de facto, uns meses sem receber porque não enviou fatura, apesar de ter sido instigada várias vezes a regularizar a situação. Neste momento, a empresa não deve 1 euro à jornalista”, diz o comunicado enviado às redações.
Sem seguro nem dinheiro na cobertura da Guerra da Ucrânia
Segundo Judite, por não ter contrato de trabalho também não tinha seguro de saúde quando viajou para Lviv, na Ucrânia, em março. “Foi nestas circunstâncias que fui para a Ucrânia, tendo manifestado vontade para o fazer. Sabia que não tinha contrato de trabalho, mas não sabia que não tinha seguro de saúde. A empresa, ao dar conta do problema, elaborou um contrato de trabalho com uma duração de 30 dias. Acontece que o erro já estava feito. Eu estava ausente do país e esse documento nunca existiu à face da lei porque nunca foi assinado por mim”, escreve.
Já Nuno Santos afirmou em direto na TVI que Judite viajou sim com seguro de saúde, o que o comunicado oficial emitido pela TVI reforça: “Sobre o seguro de saúde, e com vista a ter uma proteção superior, o que se fez aquando da partida de Judite Sousa para a Ucrânia foi um contrato com inscrição na Segurança Social. Isso aconteceu com a concordância da jornalista e do seu advogado. A empresa agiu com zelo neste caso e no de todos os jornalistas que desde fevereiro têm estado a cobrir o conflito”.
A jornalista ainda confirma as informações divulgadas por Duarte Siopa de que não teria recebido apoio financeiro da CNN Portugal, tendo que pedir ao repórter de imagem que pagasse pelos custos de alimentação. “Sem dinheiro? Sim. Nunca vi uma moeda ou uma nota Ucraniana. Para beber uma água, tomar um café, almoçar, pedia ao jovem repórter de imagem que pagasse a minha despesa. E assim se passaram duas semanas. Com uma chamada de uma equipa médica de urgência ao hotel em Lviv onde fui injectada duas vezes. E foi esta a minha “ guerra”.”
Judite termina a destacar as coberturas em que participou em nome da CNN Portugal e afirma estar satisfeita com a decisão que tomou, deixando desejos de sucesso ao dono do grupo Media Capital e ao diretor da estação. “No entretanto, excedí e muito as minhas funções contratuais: estive na noite eleitoral, no jubileu de platina da rainha com 12 reportagens em 4 dias para não falar dos múltiplos directos. Dito isto, estou grata e, principalmente, estou confortável com este ciclo, novo mas breve. A vida é demasiadamente efémera para nos desgastarmos quando podemos tropeçar na morte ao virar da esquina. Felicidades Mário! Felicidades Nuno!”