Quanto mais tempo passa, menos compreendo o que terá levado Cristiano Ronaldo a "gerir" de forma tão atabalhoada esta nova fase da vida, quando, de surpresa como um dos seus remates mortíferos, atirou para a internet a "informação" de que aderira à moda do pai solteiro. Para além de distrair quem se ocupava a criticá-lo pelo Mundial, poucas vantagens vejo. E vejo confusões crescentes das quais não se livra, ou não parece ter medido. Já li de tudo: que a criança é dele mas que nem sequer teve relações, que a criança nem sequer é dele mas pura e simplesmente comprada, que não é dele mas sim de um primo falecido, que isso de a mãe não ter qualquer direito sobre a criança não é bem assim à luz do Direito português, que a ama do rebento é russa tal como a namorada (esta não entendo, mas deve ter um significado qualquer…). Cristiano já o disse e pediu e reclamou:deixem-me em paz a viver o meu momento. Mas deveria ter pensado antes de avançar com uma informação que, pelo que não diz e tenta esconder, estava visto que se iria transformar numa bola de neve de palpites e especulações. Há tanto pano para mangas se a coisa tivesse algum interesse, que o melhor é deixá-la no sítio que merece e se calhar para o qual sempre esteve destinada: a alimentar as páginas do coração. As tais que Cristiano chama e repele, consoante lhe dá jeito. É por isso que este "bombom" tem feito manchetes a qualquer dia da semana. É por isso que já se desataram a ouvir pediatras (?) que se pronunciam, sem qualquer problema, sobre uma pretensa inaptidão de Cristiano para ser pai: basta que a revista ou jornal lhes pergunte "acha normal, doutor, que alguém que acabou de ter uma criança não esteja sempre ao pé dela, mas em vez disso parta de férias para Nova Iorque com a namorada?". É por isso que Cristiano tem de ler, como nós, que as revistas consideram que ele lhes pertence, ou lhes deve sempre algo. Perante a multidão de fotógrafos à porta de casa de férias, a rondar, a alugar helicópteros, ou, calcula-se, a treparem às árvores para tentar o instantâneo do bebé que valerá milhares, veio o craque ao portão pedir para lhe desampararem a loja. E vejo que é demasiado tarde para isso. Numa revista ou jornal, já não recordo, um editor do género malhava no rapaz, considerando-o mal -educado porque veio ao portão como "se estivesse a fazer um favor aos jornalistas"(??). Como vês, Cristiano, é a isto que estás hoje reduzido: tens a obrigação, pelos vistos, de vir dar esclarecimentos a quem tos pede, e de cara alegre, se faz favor. Um dia, há muito muito tempo, alguém escreveu em jeito de aviso: aquele que vive pela espada, morrerá pela espada. A palavra que mais me ocorre, nesta novela, é aflição. Aflitivo ver um miúdo de bom fundo e bom coração meter-se ou deixar-se arrastar numa série de passos em falso. Aflitivo perceber que tantas houve e haverá, que grande parte da imprensa considera, de facto, que tem todos os direitos sobre a vida privada de alguns. O direito de saber, e de exigir, com bons e maus modos, enquanto não sabe. Aflitivo perceber a quantidade de episódios laterais (e que não deverão ficar por aqui) que concentram hoje mais a atenção sobre a figura de um dos melhores jogadores de sempre, do que aquilo que realmente nos deveria interessar, e interessar ao próprio: as emoções que provoca com a magia do seu talento.
Capas
|Aflição
Cristiano pediu que o deixem em paz, mas devia ter pensado que iria dar origem a uma bola de neve de palpites e especulações