1 – Se a operação de guerra no Iraque se chamou Choque e Espanto, é de crer que por estes dias o mundo ocidental adopte a divisa Alegria e Cautela. A morte de Bin Laden é uma óptima notícia, por mais que choque as nossas consciências congratularmo-nos com a execução de um ser humano. Acontece que Bin Laden, e os seus cúmplices e seguidores, são os primeiros responsáveis por mais de uma década de terror, que, é bom não esquecer, começou desde logo por afectar a economia mundial. Como é bom não esquecer que o atentado às Torres Gémeas, sendo o mais horrível e brutal testemunho do perigo de Bin Laden, não foi o primeiro nem último sinal de que ninguém estava a salvo. Por isso, acima de tudo, como se viu logo nas primeiras reacções, um sentimento de alegria, nascido do desejo de justiça. Ou, para sermos claros e humanos: vingança. Mas agora, que se segue? Uma imensa e justificada cautela, uma vez que se torna imprevisível perceber se haverá retaliações a curto prazo, e, sobretudo, onde poderão ocorrer, e de que forma. Da morte de Bin Laden, sobram para já inúmeras interrogações, que fazem olhar para o passado recente com desconfiança. Se se encontrava numa grande metrópole paquistanesa, como passa despercebido à maior caça ao homem de que há memória? Como escapava ao olhar das autoridades paquistanesas, sempre tão prontas a negra conhecer o seu paradeiro? E, se o conheciam, que consequências trará essa enorme mentira às relações do país com a comunidade internacional, sobretudo com os Estados Unidos? Depois, e não menos importante, perceber até que ponto a morte do grande líder significa mesmo um golpe final na Al-Qaida. Penso que não tardaremos a saber qual das duas grandes teorias dos últimos anos estará certa: há quem defenda que matar Bin-Laden adianta pouco, uma vez que a organização está profundamente cimentada e pronta para prosseguir, e há quem defenda que a própria Al-Qaida já terá sucumbido, também ela, à intensa crise internacional, com crescentes dificuldades em financiar-se ou armar-se. Os próximos tempos são de grande expectativa. Mas sejamos optimistas: a confirmar-se que a morte de Bin Laden foi o golpe de misericórdia, a própria economia não tardará a encontrar uma luz ao fundo do túnel. Oxalá.
2- É de mim ou o PSD vai acumulando algumas precipitações e excitações que, na ânsia de cantar vitória antecipada sobre Sócrates, se podem revelar tiros no pé? Já nem falo de Nobre. Continuo a pensar que foi um passo mal medido, e que só não foi emendado porque esse tira-e-põe poderia denunciar um desnorte ainda maior. Mas não consigo perceber se esta táctica de pressão intensa e pressa de denúncia irá resultar necessariamente, que os portugueses vão optar por mudar de cor do governo. Que o partido tenha representantes ou comentadores que se atiram a Sócrates, faz parte do jogo.
Mas, às vezes, o tom é tudo. Não me espanta que Eduardo Catroga queira dar a impressão de que possui uma fórmula mágica que o fará inverter as contas do país. Já me causa alguma estranheza (por duvidar da eficácia) que um potencial ministro das Finanças espete o dedo e lance ameaças de processos criminais a quem desbaratou a economia. Não é que não possa sentir, ou defender em privado. Mas convém moderar o tom guerrilheiro, sobretudo quando o seu partido passa a vida a atacar Sócrates por adoptar a quezília agressiva em permanência.
3- Amanhã se verá, mas gostaria muito que se concretizasse a final luso-europeia. E é quase certa, uma vez que não acredito que uma equipa como o Porto, com o pássaro na mão, se deixe surpreender em Espanha. Assim, anseio por um Porto-Benfica ou Porto-Braga. Numa final totalmente portuguesa, colocando o coração nacional acima das clubites, ficaremos sempre todos a ganhar. Ficará bem entregue a qualquer uma das três hipóteses. Mas, convenhamos, no conjunto de toda uma época, o Porto não pode deixar de ser recordado como a máquina mais afinada e demolidora.