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Por mais que nos apresentem, periodicamente, estatísticas “animadoras”, o número e tipo de crimes no País é verdadeiramente assustador. Por “animadoras” leia-se que, de vez em quando, as autoridades fazem sair uns números que acentuam, muito orgulhosos, que a criminalidade violenta até “decresceu” um pouco, ou seja, passou de apavorante a mais ou menos terrível. Bem podem os mais universalistas e optimistas continuar a repetir que ainda assim não nos comparamos com países de criminalidade violentíssima; continua a parecer-me que basta dar uma vista de olhos na diagonal pelos jornais diários para se perceber que, para a dimensão do que somos, a realidade é já bastante preocupante. Os roubos clássicos continuam a liderar a lista, lembrando-nos os novos locais de risco: ourivesarias, bombas de gasolina, ou até estarmos na fila para o multibanco. Aumentam em número e violência exercida, e algo me diz que a crise não traz nada de bom. Nada nos garante que, por agora, estes assaltantes roubem para dar de comer aos filhos, como nada nos garante que, mais cedo que tarde, não vejamos cidadãos até aí insuspeitos sem saber o que fazer ao desespero. E é aterrador ver como cada vez mais o crime tem a capacidade de se “desdobrar” em mais crimes: veja-se aquele energúmeno que abasteceu na bomba, e na pressa de fugir sem pagar, atropelou uma pessoa e lançou o pânico nas ruas de uma grande cidade por mais de uma hora, não fazendo mais mortos porque não calhou. Veio-se a descobrir, sem grande surpresa, que até o carro que conduzia era roubado. Nas ourivesarias, é o terror absoluto. Os donos e empregados sabem, hoje, que têm de contar com mais do que ficar sem os objectos de valor. Multiplicam-se as agressões bárbaras, muitas vezes completamente desproporcionais ao produto do roubo. Os ladrões estão a subir a parada da selvajaria. Ora, como sempre, mas agora mais do que nunca, convém tentar perceber o que acontece a esta gente quando, e se, é finalmente apanhada. Muito pouco, certamente. Tão pouco, que outros criminosos continuam a tentar o seu assalto e a sua agressão, sabendo de antemão que o pior que lhes pode acontecer é bem pouco para o que podem lucrar. Sejamos claros: mesmo o mais pacato cidadão, por razões mais estúpidas ou substanciais, já teve ganas de esganar alguém. Acaba por não o fazer porque lhe chega um arrependimento civilizado que esfria os ânimos antes de a coisa ir para a frente, mas também, e sobretudo, porque nos habituámos a viver numa sociedade onde se pagam as malfeitorias. Pois. Mas pagam-se mesmo? A fazer fé na quantidade de gente que sai tranquilamente em liberdade enquanto aguardará (e logo se vê) julgamento, não, não há paga que se veja, aos olhos dos inocentes e vítimas. Mas se os crimes, grandes ou pequenos, contra patrimónios e bens, já são de lamentar, nada enoja e revolta tanto como a multiplicação de horrores contra crianças ou mulheres. Pedofilia e violência doméstica: eis barbaridades que mereciam uma atenção imediata e urgente das autoridades e do poder legislativo, que pudesse colocar nas mãos dos juízes leis mais eficazes para aplicar. É difícil de imaginar o terror em que vivem tantas e tantas mulheres. Ainda esta semana, e depois de meses de tormento, uma jovem foi finalmente tentar apresentar queixa contra o companheiro (que tem 19 anos, imagine-se…). Num país em que a polícia e os tribunais meteriam medo, o rapazola agressor havia de se acalmar. Por cá? O jovem pegou na filha de ambos, dirigiu-se à esquadra onde sabia estar a mulher, agrediu-a à frente de todos, e ainda agrediu três polícias (três!). Onde está o rapaz? Em liberdade, claro. Deixo-vos apenas este pedido de lembrança: já repararam que de cada vez que uma mulher é assassinada pelo companheiro ou ex-marido, ou lá o que seja, surgem logo testemunhos que garantem que ele há muito que ameaçava fazê-lo? Que aquele inferno durava há anos? Que já tinha sido algumas vezes detido, ou “admoestado”, mas continuava alegremente o seu quotidiano de violência, à espera do capítulo final, em que finalmente assassina a sangue-frio? Mas não há ninguém que jure combater isto a sério?
Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico