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1. Sinto-me muito dividido a aconselhar quem quer que seja sobre o cometa Fernando Nobre, que começou a ser vislumbrado numa candidatura a Presidente da República e se eclipsou, amuado, quando viu que também não seria presidente da Assembleia. Dividido porque, como naquelas ocasiões em que não sabemos se havemos de rir ou chorar, aqui também não me decido: deveremos esquecer-nos rapidamente deste episódio anedótico, ou guardá-lo em frasco, junto a outras imbecilidades que não devemos olvidar, e falar dele a gerações futuras? Não deixa de ser curioso (e importante objecto de estudo) que o homem que nos surgiu como lutador solitário contra o “sistema”, como representante idóneo de uma ideia de cidadania (seja isso o que for) nos tenha abandonado com um comportamento infantil e previsível com que nenhum dos chamados “profissionais da política” nos havia brindado. Nobre não será o único culpado de tão monumental gaffe, que deitou abaixo em poucos meses um imenso capital de respeito que tinha conquistado com a imagem de médico altruísta. Terá sido, também, mal aconselhado. Chamou a si (ou foi devorado) por um grupo considerável de “cidadãos” que acharam que era altura de lutar contra o “sistema” caquético e sem soluções         combatendo-o no seu próprio campo: as eleições. Uma conjuntura estranha levou a que obtivesse um número considerável de votos, apesar da pobreza do discurso, da notória impreparação, do desfile de lugares-comuns. Mas aconteceu que, de facto, o resultado nas presidenciais não foi, de todo, vergonhoso, bem pelo contrário. Mas é pena que ele, ou muitos em torno dele, não tivessem percebido que há circunstâncias e lógicas que raramente se repetem, e que uma fórmula não resulta da mesma maneira em todos os campos. Não o percebeu, está visto, quem teve a ideia brilhante, dentro do PSD, de achar que capitalizaria, de igual modo e quantidade, os votos que obteve numa votação numa outra completamente diferente. Mais estranho ainda, quando se apresenta um nome nas listas que ainda vão a votos como o nome para a segunda cadeira do País (alguém se esqueceu que, sendo difícil não ser eleito numa lista de tão grande partido, outra coisa seria ser aceite pelos compadres do Parlamento…). E foi o que se viu. Se já foi penosa a primeira votação, que ruídos prévios já antecipavam como desastrosa, ainda mais patético foi o PSD e o médico terem requisitado nova votação, como se da primeira vez houvesse muita gente a dormir ou tivesse ido à casa de banho. Nobre fez então, e só então, o que lhe restava para fazer jus ao apelido: retirou-se, tarde, já demasiado encolhido e enxovalhado. Restava-lhe uma última oportunidade de nos fazer crer que é quem diz ser, que avançou para a política para nos servir. Restava-lhe, enfim, como deputado igual aos outros, ajudar o Parlamento a governar em tempos para homens de barba rija. Mas demonstrou-nos o que os mais cépticos e atentos já haviam antecipado: ele quis a primeira cadeira do País, depois quis a segunda. E nada menos. Incapaz de se servir do sistema político como um dia sonhou, saiu pela porta pequena. Não deixa saudades.

2.  Ao contrário de Maria José Nogueira Pinto. Já não a via há bastante tempo quando, aqui há umas semanas, me cruzei com ela nos corredores da SIC. Não consegui disfarçar o choque, tão habituado estava à sua pequena-grande figura de imponente presença: não tem brilho pessoal e carisma quem quer.  Ela reparou no meu choque, e disfarçou por ambos. Uma grandeza e uma força com que tão raramente lidei. Maria José sempre me impressionou com uma característica tão estranha aos portugueses: uma imensa e inabalável coragem. Coragem de dizer sempre o que pensava, a quem quer que fosse. Coragem de aguentar as suas convicções, por mais politicamente incorrectas que pudessem soar em tantas ocasiões. Não há maior nobreza de espírito do que ser uma pessoa que não esconde, não dissimula: é com estas pessoas que podemos sempre contar. E já há tão poucas.

Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico

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