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Em tempo de crise, tenho pena de não poder fazer publicidade para reforçar o mealheiro… Estou a brincar. Apesar de achar, como já aqui o disse, que os jornalistas arranjam ligações muito mais dúbias como assessores, isso não me leva a admitir que possamos fazer publicidade. Ainda recebi um convite aqui e ali, mas com o tempo as empresas percebem que estamos proibidos pelo nosso código deontológico. Mas há um outro tipo de convites, que muitos julgam não ter a ver com publicidade, o que nuns casos é verdade, noutros, nem por isso… Refiro-me ao que vulgarmente se chama “campanhas”, sempre com uma face muito humanitária, sem ligações a partidos, clubes ou facções, sempre coisas muito politicamente correctas. Como beber um copo de leite, sorrir para a câmara e aconselhar as pessoas a prevenirem a osteoporose, ou ser filmado, sempre sorridente, a empacotar latas de atum e pacotes de arroz, pedindo às pessoas mais donativos para um qualquer banco alimentar contra a fome. Não recebi muitos convites destes, mas os suficientes para poder dizer que nem a isso estou disposto. Não é uma questão de afirmação de algo, é mesmo feitio. Não gosto de me expor mais do que já me exponho (por inerência de funções…), e ao contrário de muita “figura pública”, que gosta de aparecer porque isso lhe permite aparecer mais e mais vezes, o que “apareço” chega e sobra-me. Mas, aqui chegados, eis que informo que vou dar a cara por uma campanha. Contradição? Talvez, você julgará, depois de me explicar. Aceitei o convite para fazer parte de um vídeo que pretende reforçar a sensibilização da classe política que faz leis. Aceitei porque se trata de mudar (tentar mudar) a legislação absurda que, em Portugal, equipara os animais a objectos ou coisas. Não me vou alongar muito sobre o assunto, até porque me parece daqueles tão óbvios que não percebo porque têm sequer discussão. E é precisamente isto, e apenas isto que direi. Que, com quase 50 anos de idade (e portanto, pouca paciência), e mais de 25 de jornalismo, posso afirmar que o meu entendimento das coisas se baseia em factos, mais do que ideias ou outras subjectividades. E os factos são claros e gritantes. Os animais não podem ser equiparados a objectos porque… porque… não são objectos. Será tão difícil perceber? Será difícil perceber que não podem ser coisas se têm coração, sangue em veias e artérias, olhos para ver, mais todos os sentidos que nós temos, e que sentem fome, e sede, e medo, e solidão, e saudades? E que não só são seres vivos como nós, como nos ensinam tanta coisa que esquecemos depressa na nossa vida calculista, como dar incondicionalmente, sem saber o que receberão. E por isso, por estas coisas tão simples, vou juntar a minha voz aos que querem lembrar aos responsáveis do País as coisas mais elementares. Faço–o para ajudar a “causa”, mas faço-o também por mim, pela minha “imagem”, quero, neste caso, que não restem dúvidas a ninguém sobre a minha posição na matéria. Quero que seja claro que defendo e defenderei sempre os animais, as vítimas mais fáceis e indefesas da bestialidade de que somos capazes. Quero pedir à classe política que nos mostre, com uma nova lei, que não pactuará mais com abandonos selvagens (de facto, como se os bichos fossem coisas que se deitam para o lixo…), nem com mau tratos abjectos e gratuitos. E que quem o fizer enfrentará uma punição. E não me venham, por favor, como já ouvi, dizer-me que “em tempo de crise” a questão da defesa dos animais é uma questão “menor”. Os tempos de crise têm costas largas, quando se quer. Mas, precisamente, os tempos de crise não são, seguramente, apenas financeiros. São tempos de crise civilizacional, moral, educacional. Repare que na base da “crise” estiveram, como hoje todos sabemos, homens e mulheres que demonstraram falta de honra e dignidade, com as suas falcatruas, as suas fraudes, gastos faraónicos em nome da ganância e da ambição medíocre, negociatas a favorecer amigos, obras que não servem para nada pagas com o dinheiro dos nosso impostos, um desvario que foi originando pequeninos buracos, que depois formaram uma bola de neve, e depois um tsunami de dívidas que invadiu um país, depois, outro, e é hoje uma doença mundial. O dinheiro não tem vontade, não se mexe sozinho. Fomos nós que rolámos os dados assim. Foi a falta de solidez moral que levou à crise. Por isso, sim, a questão dos animais não só não é menor, como seria uma boa oportunidade para se começar a gerir povos com os princípios simples da defesa dos mais desprotegidos contra a lei selvagem do mais forte. Se pensar bem, aplica-se a tanta coisa…

Nota: por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico

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