1 – Eterna questão: e os críticos, quem os critica? Pois. Tirando as ferroadas que vão dando uns aos outros (e que são raras), ninguém tem acesso à última palavra como eles. É claro que, e é apenas a minha opinião, há críticos e críticos, como já o disse aqui vezes suficientes. Os que atiram em todas as direcções, e os mais especializados numa ou outra matéria. Considero-os de forma diferente, e já aqui disse que respeito, bastante, dois ou três. Que não são apenas críticos, mas antes cronistas; é no correr do texto que exprime o pensamento que podemos encontrar a crítica a isto ou aquilo, mas uma crónica, para mim, é uma arte, e cada vez mais necessária, num mundo que se limita a factos e faz pouco por reflectir. Ora se é uma arte, esta espécie de críticos enquadra-se também na categoria de criador, ou autor. E isto, lamento, faz toda a diferença em relação a muitos outros, a maioria, que fala de cátedra, raramente sabendo bem o que pode custar, ou sobretudo implicar um qualquer processo criativo. Falo hoje destes, porque os Óscares de Hollywood são um terreno fértil para grandes tiradas definitivas e juízos não raro demolidores. Oiço na rádio uma análise aos prémios da Academia. Ouço um “especialista em cinema” sorrir com ar trocista da chuva de estatuetas para “O Artista”, explicando-nos que já estava à espera e que isto dos Óscares é tudo uma questão de marketing e do politicamente correto. Pretende esta tirada sábia dizer-nos que o filme em causa não vale um chavelho. Nenhum problema, não gostou, está no seu direito. E não interessa, mesmo para o caso, quantas pessoas gostaram ou quantas outras detestaram. Mas vejo um problema, sim, quando o melhor argumento de que se recorda para rebaixar o filme é dizer-nos que “é uma ideia pouco inovadora, já que se limita a imitar os filmes antigos mudos a preto e branco, no fundo uma ideia que estava ao alcance de qualquer um”. Pois é. Mas convinha que alguém explicasse à douta figura a velha história do ovo de Colombo. E que alguém lhe pedisse para reflectir sobre as grandes ideias que vão marcando os séculos (disse ideias e não invenções, atenção). Todas, ou quase, eram afinal tão simples, estavam tão debaixo do nosso nariz… que ninguém as viu ou pôs em prática. Resta-nos depois rosnar contra quem se lembrou daquilo antes de nós. Mas nada a fazer. Continuaremos a ter gente que aponta as ideias simples e lhes chama simples, como se descobrisse um crime. Melhor seria, se tão simples assim, que a tivesse posto em prática. Continuo a interrogar–me, como aquele escritor, por que diabo anda para aí tanto artista e há afinal tão poucas obras de arte?
2 – E pronto, vem aí mais um Benfica-Porto, que não só é sempre escaldante como chega desta vez a ferver, com as equipas absolutamente empatadas no topo da classificação. Antevejo o pior. Uma semana depois de termos classificado os arruaceiros polacos que vieram a Lisboa como autênticos animais, sempre quero ver se os adeptos portugueses mostrarão uma face mais civilizada. Os últimos confrontos entre as duas equipas fazem tremer. E são um atentado ao que deveria ser um espectáculo maravilhoso. E são um entrave a que pessoas devidamente admiradoras do futebol, que até pode ser uma família inteira, virem as costas e não se atrevam a ir a um grande estádio para um grande jogo. É uma pena. E um cancro a que ninguém põe cobro, a começar pelos dirigentes desportivos, que projectam gasolina para as chamas nos dias anteriores. E mais uma vez teremos de ver gente adulta, sim, gente adulta, com comportamentos absolutamente execráveis, que dificilmente já se aceitariam a adolescentes excitados. O futebol é hoje, sem dúvida, o palco perigoso das antigas arenas, de uma lógica patética de “quem não é da nossa cor é nosso inimigo e é para abater”. Como se combate? Pois, receio que será sempre assim. Porque mesmo aqueles que não andam nas bancadas ao murro se perdem nestes dias em discussões exaustivas, quantas vezes agressivas, e condenadas ao fracasso. Algum ferrenho aceita alguma vez um argumento de um adepto do inimigo? Então para que perde tempo, sequer, a discutir?