Premeditação
Não foi vítima de um simples assalto. Quem a matou deu-se ao trabalho de a atrair para fora da estação, agredir na cabeça até à morte e só depois esconder o corpo.
Pontualidade fatal
Conceição viajou no autocarro e foi vista pelas colegas e pessoas que todos os dias faziam o mesmo trajecto. Sabe-se que chegou à estação ferroviária, como sempre, no primeiro autocarro do dia (05.36 h). Entrou na estação mas não chegou a “picar” o seu acesso ao comboio, conforme disse à tvmais um dos seguranças que estava de serviço naquele turno. Conceição saiu e caminhou na direcção do estacionamento. Depois desapareceu.
Atraída para fora da estação
Ninguém sabe porquê ou viu com quem. Algo ou alguém a convenceu. “Teria de ser alguém da sua confiança a convencê-la a ir, ainda de noite, para aquela zona”, diz Albino Gomes, especialista forense. Tudo indica que foi atraída para um dos estacionamentos (um é subterrâneo). Ou não. Pode ter sido levada de carro e atacada depois. Ou agredida ali, morta e levada depois para debaixo da árvore onde foi encontrada.
Móbil desconhecido
O desaparecimento da mala de Conceição, que tinha telemóvel, dinheiro e documentos, faz parecer que foi vítima de um assalto. Mas ainda é desconhecido o motivo que a levou a sair da estação. Só depois disso é que o homicida (ou homicidas) tê–la-á atacado até à morte. Teve tempo para levar o corpo para um ermo, aí o depositar em decúbito dorsal (de barriga para cima) e tempo para o tapar com galhos e ramos (partidos na altura). Mas não teve tempo para ver se ela tinha brincos de ouro e um relógio? A ideia de que o motivo do crime tenha sido um assalto cai por terra.
Local limpo
Apesar dos galhos partidos para cobrirem o corpo, o local onde este foi encontrado estava organizado e sem quaisquer outras marcas, o que vem confirmar o indício de se tratar de um local secundário. Isto é, Conceição não morreu ali. Não existe projeção de sangue e a pequena mancha encontrada é insignificante, se forem considerados os danos provocados na cabeça e no rosto da vítima. A inspeção judiciária feita no local deixou intactos uns sacos de papel, uma manta térmica enrolada e dois sacos com folhas de embrulho. Tudo deixado recentemente e tudo muito limpo. Um dos filhos de Conceição referiu que “colocaram a minha mãe no lixo”, mas não. No local não havia qualquer depósito de lixo ou coisa parecida.
Hora de morte
A hora da morte é um dado já desvendado na autópsia, mas o registo de chamadas recebidas no telemóvel de Conceição é extremamente importante para a reconstituição do homicídio. Às 9 h o telefone dela já não funcionava.
Convicções
Apresentaram queixa na PSP, pediram ajuda aos bombeiros, mas, impacientes por nada saberem da mãe, iniciaram buscas na zona da estação de Foros de Amora. Por vezes não sabemos explicar porque temos esta ou aquela convicção. Aos filhos de Conceição terá acontecido isso. Foram três vezes à estação de comboios. Uma, cerca das 14 h,
outra, cerca das 19 h e finalmente outra, cerca da meia-
-noite. Procuravam perceber o que se passara e pediram acesso às imagens das câmaras de vigilância. Na última busca, conseguiram que um segurança os acompanhasse até à zona lateral da estação. O homem foi fechar a linha dois e é nesse momento que o filho e um sobrinho dão com o corpo de Conceição, segundo contou à tvmais um dos seguranças. Eram cerca das 00.30 h, quando isto aconteceu.
Corpo intacto, cara desfigurada
Sem agressão ou qualquer marca de luta nas roupas, o corpo de Conceição jazia num ermo, numa zona escura, sem iluminação e coberto de ramos. Apenas a cabeça tinha marcas de ter sido atingida com um objecto contundente. O rosto estava de tal forma desfigurado que as autoridades acreditam ter sido agredida com uma pedra ou um ferro. Foi o filho mais velho quem reconheceu a mãe. Isso foi feito através do cabelo, porque o rosto estava desfigurado. “Havia muito sangue e percebi logo que ela estava morta”, disse Edmilson Tavares.
A PJ sabe mais
“Quem a matou não podia ou queria olhá-la na cara”, explicou à tvmais um especialista forense. À hora a que fechamos esta edição ainda não havia detidos. É preciso ter indícios objectivos que liguem os factos aos suspeitos. Este parece ser o momento que os investigadores da PJ de Setúbal vivem.