É das coisas que mais me enerva e revolta, porque junta num mesmo gesto um medíocre e um ladrão: o plagiador
Não, não são os primeiros casos, e de certeza não serão os últimos. É matéria com a qual aprendemos a viver, o que não significa que a encaixe serenamente. Muito pelo contrário: é das coisas que mais me enerva e revolta, porque junta num mesmo gesto um medíocre e um ladrão: o plagiador. Assim mais recente, bastam os casos de Robin Thicke e Pharrell Williams, que não se lembraram de nada menos do que plagiar Marvin Gaye, ou Rihanna, que “compôs” “Bitch Better Have My Money”, digamos que um tudo-nada parecido com “Betta Have My Money”, que pelos vistos já tinha visto a luz do dia com a voz de Just Brittany. Antes de falar do gesto, da intenção, da chico-espertice, falemos da estupidez: uns lembraram–se de roubar um tema de um dos maiores nomes da música, a outra nem se deu ao trabalho de disfarçar devidamente o título da canção. É tudo mau, tudo desprezível. O acto de roubar criação alheia é inqualificável. Que mais aflige é ser praticado por cabeças de cartaz, que à partida não terão necessidade de andar a roubar. O que nos leva a pensar: que mais terão roubado, que outros louros terão colhido de criações que não era suas? Basta terem ido roubar a gente menos notória, e se calhar a coisa passou. Desenganemo–nos: quem faz isto uma vez que seja, é porque pelo menos já pensou fazer outras. São, pois, tão medíocres quanto os supostos medíocres, como os que fiquei a conhecer, há muito tempo, num artigo, particularmente bem escrito, da “Rolling Stone”. A revista havia descoberto (isto ali nos finais dos anos 80), o que um grupelho de três jovens aspirantes a músicos andava a fazer. O esquema era simples: sem ideias próprias, sem talento, mas uma grande vontade de serem popstars, andavam de bar em bar por quase toda a Inglaterra. A fazer o quê? A ouvirem o que tocavam bandas de garagem que espreitavam a sua oportunidade de se mostrarem. Na sua maioria muito jovens, adolescentes mesmo, queriam era tocar a ver se lhes pegavam, e nunca se lembravam de registar primeiro a autoria e cantar depois. Ora, o que o grupelho fazia era levar um gravador, mais um bloco de notas. Quando escutavam acordes que lhes soavam bem, gravavam para depois os tocarem como seus. Demorou algum tempo a descobrir, porque eram (ainda assim) mais espertinhos que estas grandes estrelas que agora roubam. Não, estes não roubavam músicas ou letras inteiras: pilhavam um nadinha daqui, outro nadinha dali. Deu algum trabalho ao repórter da “Rolling Stone”, mas acabou por listar o que tinham roubado a quem. E há ainda aquela variação igualmente medíocre e perigosa, o plágio académico. Que, neste caso, até se vendem e compram na internet. Tremo só de imaginar quantos cursos se tiraram, quantas notas brilhantes à custa de roubo da intelectualidade alheia. E o que neste caso causa maior impressão é que os ladrões de criatividade, mesmo que consigam não ser descobertos (e são muitos), eles sabem, quando se olham ao espelho, que roubaram. O que pelos vistos não lhes provoca qualquer dor de estômago. Alguém disse que o bom senso era a coisa mais mal distribuída do mundo. Eu acrescentaria a vergonha. Ou a falta dela.